Monday, June 22, 2009

UM APERTO DE MÃOS, PERTO DO CORAÇÃO

Fevereiro de 1977, estou servindo desde o inicio do ano na Missão Brasil São Paulo Norte, enquanto aguardo a designação oficial para a missão não-sei-ainda-qual. Uma jogada inteligente do Presidente Saul Messias, primeiro Presidente brasileiro da MBSPN. Estou feliz com o ambiente em que sirvo, sou secretário-historiador, e em fins de semana e após o expediente, fazemos proseletismo nas Alas São Paulo 5 (Pinheiros) e São Paulo 4 (Perdizes). Ambas funcionam em Perdizes, na capela da Rua Turiaçu, desde a venda dos prédios de Pinheiros da Av Iguatemi. Meu companheiro chama-se Elder Wallace, californiano de San Diego, e é o Secretário da Missão. As oportunidades de ensino são escassas, agravado pela dificuldade de não conseguirmos focar no proseletismo devido a sobrecarga de trabalhos burocraticos, e também por servir em 2 Alas ao mesmo tempo. Mas me sinto bem por estar me envolvendo aos poucos com todo o ambiente missionário. Estar proximo do Presidente Saul e de sua familia, é no mínimo uma oportunidade de aprendizado fantástica.
Estou esticando o panorama histórico, antes de narrar o conteudo propriamente dito, porque tem tudo a ver com o momento da Igreja no Brasil em 1977.
A construção do Templo avança, as paredes externas ja estão a meia altura. Sempre que possivel, gosto de apreciar a obra, moramos no mesmo bairro. Passo nas vizinhanças as vezes quando vamos buscar água potável em uma mina na Av Francisco Moratto. Abastecemos a Casa da Missão, da Rua MMDC e tambem a residencia da familia do Presidente, numa avenida próxima da USP.
Este mes de Fevereiro, a Primeira Presidencia veio ao Brasil para cumprir a cerimonia do ASSENTAMENTO DA PEDRA ANGULAR DO TEMPLO. Presidentes Spencer W Kimball e Marion G Romney conduzem esta cerimonia, que assisto no gargarejo. Ainda guardo de memória a descrição de parte do conteudo da caixa lacrada, (capsula do tempo) que foi guardada na mesma ocasião. Coisas como uma bandeira brasileira, a lista com os nomes de todos os membros da Igreja no Brasil na época, edições de jornais do dia, edições das escrituras em portugues.
Naquele mesmo fim de semana, somos convocados, os missionários de tempo integral para uma reunião especial com o Profeta. Estivemos presente mais de 100 missionários, de ambas as missões, MBSP Norte e MBSP Sul. Que me lembre, acho que, só não vieram para esta ocasião os missionários que serviam nos ramos do estado do Mato Grasso, atual Mato Grosso do Sul. Ja os da MBSP Sul me parece que vieram todos, inclusive os que serviam no estado do PR, em Curitiba e Ponta Grossa. A reunião, que foi realizada na Capela da Ala S. Paulo 1, Vila Mariana, na Rua Mauricio Klabin teve maravilhosos oradores. Ainda me lembro muito bem da mensagem de pelo menos de 2 dos principais oradores, o então secretário da Primeira Presidencia, irmão Arthur H.... (de novo, falha na memória) que contou uma história impressionante sobre sua chegada ao campo missionário, a atitude negativa de seu primeiro companheiro. Pois para mim, tornou-se mais impressionante ainda, eis que, algumas semanas depois, ao chegar na MBRJ, e receber a primeira área, fui designado para servir com um Elder que repetia literalmente o comportamento descrito pelo irmão Arthur, quase 40 anos depois.
Mas o que me motivou a registrar esta experiencia, foi o relato do Presidente Spencer W Kimball. Em sua mensagem, ele relatou uma reunião missionária ocorrida quando ele era um jovem missionário, creio que na década de 10, do século passado. Ele contou que, numa Conferencia, eles foram visitados por um ancião, cujo nome lamento não me recordar agora. Ao fazer um excelente discurso motivador para os jovens missionários, (entre eles, o então Elder Kimball), o citado irmão descreveu um fato impar, ocorrido na ocasião do seu próprio chamado missionário, em Nauvoo (ou Kirtland, imperdoável eu esquecer locais assim). Na ocasião de seu chamado e designação como missionário de tempo integral, para servir na Europa, o Profeta Joseph Smith, presente na designação, olhou profundamente dentro de seus olhos, deu um longo e afetuoso aperto de mãos ao recem-designado missionário e disse mais ou menos o seguinte:
“Elder Fulano, quero que voce leve este aperto de mão, como uma saudação minha, pessoal do Presidente da Igreja a cada pessoa a quem voce ensinar o evangelho restaurado. Desejo que eles saibam que voce esteve comigo pessoalmente e que eu lhes presto meu testemunho da veracidade desta mensagem.”
O citado irmão contou que assim fez, durante sua missão, e por toda sua vida. Sempre que podia, prestava testemunho da restauração, e passava esta mensagem direta do Profeta Joseph Smith, sempre dando um caloroso aperto de mãos, como recomendado pelo Profeta.
E, ele queria passar este aperto de mãos àqueles jovens missionários, no limiar do século 20, ali presentes, para que eles soubessem que apertavam as mãos de um missionário que apertara as mãos do Profeta da Restauração.
Desta maneira, o então jovem missionário Elder Kimball recebeu este significativo aperto de mãos, aproximadamente 60 ou 70 anos depois da tão afirmativa do Profeta.
Novamente se passam outros 60 anos, o ex-Elder Kimball, agora Presidente da Igreja, desejou repetir este mesmo ritual, no inicio de 1977, na capela de Vila Mariana em S. Paulo. Ele queira que, nós missionários presentes naquela reunião pudessemos ter a mesma experiencia, e saber que apertavamos a mão de um homem, (ele, Presidente Kimball), que apertara a mão de quem (o orador idoso do inicio do século 20) recebera este aperto de mãos pessoalmente do Profeta Joseph.
Foi emocionante ver o Profeta de Deus, percorrer cada fileira de bancos daquela capela em S. Paulo, e cumprimentar pessoalmente cada um de nós. Não sei se outros Elderes presentes tem a mesma lembrança que eu deste evento. Deveriam estar lá, entre tantos outros, o Suzin, o Moroni, o Getulio W Silva. O Ulisses Philpelli com certeza, eu estava sentado próximo dele. Guardei esta imagem em meu coração durante a missão.
Anos depois, (Fevereiro de 2002 possivelmente) na reunião familiar de despedida do nosso filho David para ingressar no CTM, contei a ele esta história, e repeti o aperto de mãos, para que ele levasse as pessoas que encontrasse em sua missão. Algo que começou aproximadamente em 1840, como um incentivo para o inicio de uma jornada missionária, ja chegou até 2002. Quem sabe, continue e avance por futuras gerações de missionarios.