Com o dia das eleições se
aproximando, acho importante declarar o meu voto, como alias, sempre o fiz, mas
desta vez pela internet.
Após ponderar bastante, vou votar na
Marina Silva para Presidente do Brasil, por inumeráveis razões. Mas antes de
dizer quais são os fatores que me fizeram chegar a esta conclusão, pretendo esclarecer
os motivos pelos quais estou tão enojado com a politica brasileira. Estou
acostumado a acompanhar os fatos e o noticiário econômico e político
durante os outros 46 meses de vigência dos mandatos públicos no Brasil, assim não fico refém da propaganda eleitoral, que vende políticos como se vende sabão em pó! Portanto tenho com muita clareza que o processo politico eleitoral no Brasil é
uma grande farsa! Como alias também o é a administração publica, e tudo que
deriva da atividade dos nossos nobres políticos. Comecei a construir esta ideia
há mais de 4 décadas. Um hábito que adquiri desde 1969, quando me sentava na
Sorveteria do Coré pra ler a Folha de S Paulo! Posso dizer que os colunistas da
Folha daquela época me ensinaram a pensar, a grande maioria deles, pilares do
jornalismo brasileiro, por exemplo MAURO SANTAYANA, PAULO FRANCIS, SAMUEL
WAINER, C. ABRAMO, C. ROSSI, WASHINGTON ..., tantos outros cujo nome me escapa
neste momento. Lia também o Estadão, (AUGUSTO NUNES) além de autores como
EDUARDO GALEANO, e alguns outros menos notórios. Para encurtar o rosário,
destaco a seguir algumas das principais razões que me deixam indignado, e que me levaram até então a decisão de não comparecer nesta eleição no inicio de outubro próximo:
a) A farsa das Urnas Eletrônicas: Nem vou me dar ao
trabalho de citar, basta dizer que existe farta documentação na internet de
relatos sobre a vulnerabilidade do nosso modelo. O Youtube é fonte onde
aparecem muitas informações sobre os países que testaram, alguns chegaram a utilizar para logo abandonar as
urnas eletrônicas tipo brasileira, por não serem confiáveis. Inclusive países
cá da América Latina. Por outro lado, países que não toleram corrupção já
desenvolveram suas próprias urnas eletrônicas, com versões a prova de fraude, e
nós ainda estamos na primeira versão! E, pior, precisamos ter estomago de ferro para aturar a incessante propaganda na TV do TSE, tipo lavagem cerebral, a favor da confiabilidade das tais urnas! Se isso tudo não fosse demais, ainda vemos o próprio TSE ser presidido pelo ex-advogado de campanha do Lulla da Silva!
b) A farsa da Democracia Representativa: Não pode ser considerado uma democracia verdadeira, um país onde os cidadãos são divididos em classes. Nossa
Constituição de 88, escrita, desenhada e aprovada pela classe política, perdeu
a oportunidade de corrigir esta sinistra e perigosa discriminação. Preferiram
manter as coisas como estavam, e, desta maneira, o verdadeiro conceito de
democracia UM HOMEM, UM VOTO está sepultado no Brasil. Existem eleitores classe
A, que moram em estados do Norte, e eleitores classe B, que moram no Sudeste e
Sul, principalmente em São Paulo. Um voto de um eleitor de Rondônia, por
exemplo, vale perto de 200 votos de eleitores paulistas!
c) A farsa dos mandatos remunerados: Um representante
do povo deveria ser remunerado pela média salarial da sua cidade, ou estado ou
nacional, conforme o caso. O salário médio do trabalhador brasileiro deveria
ser o teto salarial dos deputados, vereadores, etc.. Devido a esta distorção, a
função publica sempre atrai pessoas sem escrúpulos, que fazem da politica uma
profissão. E isto é antigo, desde sempre foi assim. Desta forma poucos com
vocação pra servir aceitam se envolver na politica, principalmente porque é
politicagem partidária, e não politica de ideias, de planos e projetos de
governo que movem o dia-a-dia de nossos ilustres representantes.
d) A farsa dos poderes independentes: O costume no
Brasil é de que o Executivo comande o processo legislativo,
enquanto o Legislativo busca uma boquinha na administração do Executivo, onde
possa obter vantagens, propinas, no comando das gordas verbas dos Ministérios.
E assim, ficam reféns uns dos outros, com o rabo preso. E, pior ainda o
Judiciário, que aceita passivamente a condição de sequer poder controlar
o próprio orçamento, e cala-se diante das nomeações geralmente apadrinhadas
pelo Executivo e seus partidários. Sem moral nenhuma para julgar os casos que
envolvem membros do governo. O Legislativo também se acovarda nas situações de
fiscalizar o Executivo.
e) A farsa das funções de Governo: Em qualquer país
com bom senso, o governo deve concentrar suas ações nas atividades fim, ou
seja, promover a justiça e aplicar as leis. Aqui em Pindorama, a própria
Constituição impõe certas tarefas absurdas ao governo, principalmente sem dizer
de onde devem vir as receitas para isto. Por exemplo, onde diz que o governo é
o responsável para fornecer uma casa própria a cada brasileiro!
f) A farsa do Estado Empresário: Alguém em sã
consciência pode justificar a razão, para, em pleno século 21, um governo
nacional insistir em ser dono de empresa de petróleo? Escolher participar do
jogo de mercado, como qualquer participante que fabrica,
distribui, compra, vende - em vez de escolher se manter neutro pra melhor
defender os interesses das pessoas? Ao ser participante perde a condição de
julgar e equilibrar as relações entre produtores e consumidores, pois pensa no
seu lucro. Ou pior, no caso da Petrobras, nem é no lucro, pois estão quase
conseguindo quebrar a empresa, mas sim na distribuição de propinas entre os
seus partidários. Este ano de 2014 está sendo muito útil para que grande parte
da nossa população faça descobertas interessantes. Por exemplo, este foi
o ano que o brasileiro médio descobriu que a Seleção Brasileira de futebol era
mais do Felipão do que nossa! Assim tenho a esperança de que descubram que a
Petrobrás não é nossa! Nunca foi, nem nunca será! Sempre foi um feudo dos
seus dirigentes, dos funcionários, dos sindicatos e dos partidos no
poder! O petróleo, no subsolo brasileiro, em terra firme ou no mar, este sim, deve
mesmo ser nosso, mas que, infelizmente ainda não chegou a ser! Quando, nestas décadas de existência a Petrobras fez qualquer distribuição de lucros aos seus verdadeiros donos (o povo brasileiro)? Precisamos ter a sobriedade de reconhecer que nossa empresa estatal não tem condição ética para exercer
atividade comercial nem industrial, por ser Governo.
g) A farsa do Estado Banqueiro: O mesmo se dá no
mercado financeiro, pois o Governo brasileiro é dono de dois dos maiores
estabelecimentos bancários no país: Caixa Federal e Banco do Brasil. Novamente
ao agir como dono de instituição financeira, perde a isenção necessária para
regular as relações entre Bancos e clientes! Por esta razão pagamos no Brasil a
maior taxa de juros do planeta. Novamente não é apenas o lucro capitalista que
se busca, mas antes a possibilidade de distribuir benesses, principalmente a clubes
e associações que não prestam contas a ninguém das verbas recebida.
h) A farsa do voto obrigatório: O sistema eleitoral
brasileiro permite que oligarquias permaneçam incrustradas no poder por
décadas, principalmente manipulando o voto obrigatório, que é facilmente
trocado por quinquilharias. Isto decorre do caráter submisso das classes menos
informadas da população, e da venalidade que infelizmente é comum entre nós.
Com isto, os políticos se aproveitam da fragilidade econômica das pessoas e barganham
votos de maneiras cada vez mais criativas, porem não menos criminosas. O
voto consciente, bem pensado fica impotente diante do maremoto dos votos
“obrigatórios”! Diante disto tudo, sinto que a cada vez que compareço na minha
sessão eleitoral, estou dando meu aval a este sistema porco da politica
partidária brasileira!
i) A distorção do Governo Patrão: O brasileiro precisa
entender que apoio não significa passividade bovina. O comportamento mais
digno e civilizado, e mais correto seria o seguinte, onde logo após o termino
de uma eleição, todos se unissem no apoio ao vencedor. Que venceu, não para nos
governar, mas sim para dirigir o ente Governo, que por sua vez é um servidor do
publico. Porém nosso pensamento latino, nos leva a aceitarmos passivamente o
papel de vassalos, e assim perdemos a oportunidade de agir como PATRÃO dos
políticos. Fico revoltado só de pensar que as pessoas votam nas urnas de
maneira tão pouco esclarecida. Estamos vivendo um tipo de democracia totalmente
distorcida, pois aceitamos eleger um patrão, ao invés de termos a clareza de
estarmos escolhendo nossos funcionários!
j) A distorção da polarização entre 2 ideologias: O
cenário pluripartidário no Brasil favorece a uma enorme contradição, que vem
alimentando uma polarização desnecessária entre 2 ideologias, que nem sequer
corresponde a verdade destes partidos! Não dá pra ficar agindo como torcida de
times rivais. Também é ilógico o alinhamento automático a um determinado
partido, até porque no Brasil os partidos são verdadeiros balaios de gato. Um
legitimo petista do nordeste é 100% parecido com um pefelista (DEM) do sul! Eu prefiro
seguir a orientação de D&C, que nos instrui a buscar e apoiar homens
honestos comprometidos com as liberdades individuais. O cenário dos partidos no
Brasil se desenrolou nos últimos anos, mais focado em discórdias pessoais do
que em ideologia propriamente dita. Se um adversário esta no partido A, o
fulano precisa se filiar em ao partido B, mesmo que não tenha nenhuma
identificação com o ideário de B.
k) Existem outras tantas farsas e distorções,
principalmente na Educação, onde as graves distorções já produzem efeitos
desastrosos, que se acumulam por séculos de incompetência mesclada com má fé
que se começássemos a corrigir hoje, dificilmente seriam resolvidas nas
próximas 3 ou 4 gerações de brasileiros!
Isto
tudo acima, somado já é suficiente para uma pessoa de bem querer distancia
deste processo politico tão contaminado. Mas mesmo assim conclui que desta vez
valeria a pena sujar as mãos nas suspeitas urnas, pois Marina me parece
ser a menos pior das 3 opções. Quero esclarecer abaixo porque penso assim:
1)) Eu não teria votado no Eduardo Campos, caso ainda
estivesse vivo, pois ele sempre viveu a sobra do nome do Avô. Nunca construiu
nada por si mesmo. Foi se envolvendo na politica e viveu como politico
profissional, que não tem outra atividade produtiva, não criou uma empresa que
gerasse empregos, nem impostos nem riqueza.
2) Eu não voto no Aécio, mais ou menos pelos
mesmos motivos acima, ou seja, igual ao Eduardo, foi vivendo a sombra do nome
do Avô, apenas um politico profissional. Além do que, já mostrou que não
tem zelo nenhum com o dinheiro do povo, ao construir um aeroporto para uso
próprio, em terras de sua família!
3) Eu nunca votei na Dilma, nem votaria agora, assim
como nunca votei no seu mentor. Não faço parte do grupo dos arrependidos, (uns
15% do total dos votantes na eleição anterior), pois não cometi o erro de
confiar nela. Apesar de não votar nela, dá para imaginar que
mediante a insensatez do sistema eleitoral brasileiro, ela pode sim ser
reeleita. E talvez seja até justo que ela assuma o ônus de ter que implementar
todos os ajustes na economia que serão absolutamente necessários em 2015, para
recolocar o país nos trilhos.
Porque estou escolhendo então votar
na Marina, mesmo sendo obvio que ela é uma perfeita incógnita? Acontece que,
se, for o caso, estou me dando o direito de errar uma vez, pela primeira
vez no voto em eleição presidencial. Se ela me decepcionar, me sentirei com o
dever cumprido de ter buscado o melhor para nosso país. Mas para ser sincero estou esperançoso de que ela não vá me decepcionar.
Na verdade para mim é comum não votar
com a maioria. Me sinto confortável na minoria. Não preciso ser igual a todos
para ser feliz. Acho que a Marina vai assumir trazendo um
pensamento mais conservador em relação a assuntos polêmicos. Por outro
lado poderá ser um avanço nosso país ser representado na ONU por alguém com sua
história de luta pessoal, uma vencedora que se alfabetizou já adulta e mesmo
assim foi em busca de seus ideais. Sei que ela representa
uma parcela da população sempre excluída, o caboclo do norte, de origem rural,
humilde, envolvida em lutas da sua comunidade, e preocupada com o bem estar de
todos. Será uma digna e legitima representante do povo brasileiro diante dos
grandes fóruns mundiais. E, pelo que sei, ela nunca teve um posicionamento
comunista, principal equivoco dos esquerdistas da atual geração. O comunismo
está morto, e há muito deveria estar bem enterrado!
A solução para nosso país certamente
não é monopólio da MARINA SILVA. Mas com certeza, passa por ela.
Principalmente diante de uma eleição, cujo debate esta focado em picuinhas e
temas secundários, como direitos de minorias, fazendo vistas grossas ao que é
mais relevante para a grande maioria da população. Não se fala em reforma
fiscal efetiva, ninguém defende abertamente a desoneração do custo de produção,
não se fala em politica industrial para recuperar a capacidade produtiva
nacional. Não se fala em proteção dos ativos naturais da Amazônia, nem sequer
ninguém menciona como desenvolver o incrível potencial destes recursos sem
deixa-los escapar para laboratórios estrangeiros. Ninguém fala em Medicina
Preventiva como politica de estado. Ninguém assume a necessidade de
enfrentar o crime organizado, de penalizar em dobro os criminosos maior de
idade que cometam crimes em companhia de menores, nada a respeito da penalização
de menores criminosos. Ninguém quer assumir o custo de propor um enfrentamento
necessário no controle das fronteiras para aliviar a pressão do trafico de
drogas e de armamentos para quadrilhas. Ninguém quer assumir a necessidade da
reforma do Judiciário, como por exemplo, propondo eleições livres para as Cortes, controle externo pela cidadania deste Judiciário lento, e geralmente prepotente. Ninguém esta
propondo uma linha desenvolvimentista para a nação, sem alinhamento ideológico
com correntes do bem ou do mal! A politica externa, que deveria ser clara na
postulação de cada candidato é uma leve mancha no portfólio dos mesmos. Ficar em cima do muro durante a campanha, e depois se engajar nas disputas ao lado dos caras errados, isto precisa ser corrigido na nossa Diplomacia, mas ninguém assume. Fala-se
da boca pra fora de reforma politica, mas sem apontar como, nem quando! Ninguém
defende, nem se opõe a necessidade de capitalizar o produtor rural, de
recuperar a capacidade de moagem de cana de açúcar. A Educação precisa
urgentemente ser repensada, esclarecendo os direitos e obrigações de cada nível
de governo, desde o Municipal, passando pelo Estadual e definindo com o
Federal. Ninguém se posiciona a este respeito. O Ministério da Saúde precisa
ser despolitizado e ter sua estrutura livre do peso das nomeações partidárias
que o aparelharam ultimamente, e ninguém diz abertamente o que pensa a este
respeito. Enfim, diante do vazio no debate, que cede espaço para a intriga
partidária, permitindo que a politicagem se sobreponha a Politica, me parece
que a MARINA SILVA é uma resposta bem adequada aos candidatos viciados no jogo
do poder pelo poder! Caso a Marina vença, vou ter que me engajar de corpo e alma enviando sempre sugestões e criticas. Caso ela não vença, serão mais quatro anos vivendo sob a sombra das mazelas dos políticos brasileiros. Enfim, isso tudo pesou na minha escolha, façam a sua!