Friday, February 10, 2023

MEU CHAMDO MISSIONÁRIO

 MEU CHAMADO MISSIONÁRIO 

 

Gostaria de compartilhar as experiências relativas a meu chamado missionário, minha ida ao campo missionário e a volta para casa. 

É importante frisar que, desde o meu batismo em março de 1972, eu sempre soube que iria um dia fazer uma missão. Sempre participava da obra missionária, dividindo com os Élderes do nosso Ramo, e assim fui me afeiçoando ao trabalho missionário. Logo que completei 18 anos, no início de 1975 tive o privilégio de ouvir da voz do Profeta Spencer W Kimball, na primeira Conferência de Área no Brasil, o chamado, ou convite, ou talvez desafio para todos os rapazes presentes, que servissem uma missão de tempo integral. Eu senti nisso a confirmação de deveria servir missão. Mas também era o momento do meu alistamento no serviço militar obrigatório. No caso aqui em Araraquara, era o Tiro de Guerra (TG 02-006) e eu resolvi procurar o Tenente responsável pela Junta de Alistamento Municipal, e pedi dispensa, expliquei que estava me preparando para servir uma missão da minha Igreja por 2 nos. Disse a ele que eu desejava sair em missão no ano seguinte, (1976) quando faria 19 anos, dei mais alguns detalhes de como funciona o sistema missionário da Igreja, e não me recordo de ele ter sequer se interessado por quaisquer detalhes! Após me ouvir educadamente, a resposta dele para mim foi mais ou menos esta: “Olha meu jovem, se eu liberar você, quem eu pôr no seu lugar? Algum cara que não tem nem porte físico para segurar uma arma?” Ele deve ter dito aquilo baseado na minha aparência, pois eu não era nenhum atleta, apenas um cara alto de razoável aparência.  

E assim, isso sepultou minha idéia de sair no início de 1976, porque teria que aguardar ser incluído no Tiro de Guerra antes de pensar em sair para a missão. Naquele tempo o Tiro de Guerra era de 6 meses de duração, então ainda teria a chance de servir o Tiro no primeiro semestre de 76, e entrar no campo missionário no mesmo ano, depois de Junho, quando daria baixa. 

Mas aí vem a primeira surpresa – meu irmão Mário que é mais novo um ano que eu, tinha 17 anos, mas tinha o direito de se alistar como VOLUNTÁRIO por ser Universitário, estava no primeiro ano de Engenharia, e assim ganhar tempo para sua vida profissional. Sem que eu soubesse ele se alistou na mesma época que eu, e foi inscrito para servir no primeiro semestre como era o costume no caso de Voluntários. Em consequência disso eu fiquei para o segundo semestre de 1976, então a ansiedade por sair em missão só aumentava, porque agora eu sabia que só poderia sair em 1977.  

Então aconteceu uma nova surpresa, logo no início de Julho, eu mal começara o Serviço Militar, e uma provação dificílima se abateu sobre nossa família. Meu pai adoeceu, foi internado, diagnosticado com câncer na cabeça, foi operado, fez radio terapia e faleceu em exatos 28 dias, desde a internação. Foi um desfecho muito rápido e um choque para nossa família. Mas eu pude ver depois a sabedoria e bondade do Senhor, pois se eu estivesse no campo missionário, vindo meu pai a falecer, ia ser um abalo muito maior para mim, para minha mãe e meus irmãos. Nem sei se conseguiria ir até o fim e terminar a missão.  

Eu era o mais velho dos 4, tinha além de mim e do Mário, o segundo, mais 2 irmãos menores, o Carlão de 14 anos e o Antoninho de 8. E como eu e o Mário trabalhávamos, a gente ajudava um pouco em casa, não com tudo que ganhávamos, mas já aliviava um pouco, e também não precisavam gastar tanto comigo e com ele.  

Porém agora com a morte de meu pai, isso tudo mudou. Iríamos precisar de cada tostão para dar conta das despesas da casa. Nessa época minha rotina era das 6h da manhã até as 9h fazer o Tiro de Guerra, depois ia pro trabalho, onde saia as 18h e entrava na escola as 19h até as 23h mais ou menos. Nossa vida era isso, a gente tinha força e nunca reclamava de nada. 

Mas estava ficando cada vez mais difícil manter a meta de ir para a missão. Quando terminei o serviço militar, em dezembro de 76, a situação financeira em casa estava bem mais difícil. E se eu parasse de trabalhar para ir pra missão, seria uma renda a menos em casa. Minha mãe ficara com a aposentadoria do meu pai, que era pedreiro, então não era uma aposentadoria enorme. E o que ela poderia fazer, viúva com 4 moleques para cuidar? Aconteceu então que minha mãe precisou trabalhar para fora. E o que ela conseguiu fazer, foi lavar roupa e passar, pois morávamos próximo ao centro da cidade, e tinha uma grande vizinhança dos prédios que nos conheciam.  

Então nesse ponto da vida, em Dezembro de 1976 dei baixa no Tiro de Guerra, fiquei tomado de preocupações sobre sair para a missão. Eu realmente tinha o desejo de ir, era um sentimento que eu nutria há anos, porém eu não tinha coragem de falar isso para minha mãe e meus irmãos. Me sentia como se eu estivesse impondo minha vontade pessoal acima das necessidades da nossa família.  

Nosso Presidente do Ramo, irmão Chrispim foi lá em casa falar com ela o que eu mesmo não tinha coragem de falar. E ele saiu daquela visita lá em casa, me chamou e falou para eu continuar a preparação dos papéis e tudo mais para sair em missão. Continuei me preparando, todo mundo lutando. Nossa família sempre foi muito lutadora, de origens humildes. Minha mãe ficou órfã muito cedo, aprendeu a trabalhar desde criança, então isso era bem normal em nossa família e não era nenhum sofrimento adicional para ninguém de nossa casa.  

Só era um sentimento ruim para mim, de estar deixando de colaborar financeiramente num momento crítico para minha mãe. 

Para encurtar um pouco essa parte, minha família sobreviveu muito bem sem mim! Meus irmãos continuaram estudando, o Mario firme no trabalho e na faculdade, o Carlão começou a frequentar a igreja, se batizou, embora não tenha ficado firme, arrumou um trabalho, passou a estudar de noite e a vida tocou. Minha família nunca precisou de ajuda financeira da Igreja. Minha namorada da época, minha esposa eterna, sempre os visitava e testemunhava como o Senhor abençoava a todos com muita saúde, muito trabalho e com o ganho suficiente para manter o padrão que tínhamos quando meu pai era vivo.  

Mas então aconteceu uma coisa muito interessante, em dezembro de 1976 enquanto estava no estágio de preencher o chamado missionário, fui surpreendido por uma nova situação, um desafio e tanto! Um conhecido meu, de uma oficina mecânica, me apresentou um cliente seu que estava lá. Eu não o conhecia, era o Gerente do Escritório Regional da Cia Paulista de Seguros. Esse senhor, que vim a conhecer melhor depois, se chamava Henrique Genari me convidou para trabalhar na Seguradora com ele. Me disse que eu seria registrado, ele sabia que eu estava fazendo bico na loja do Presidente do Ramo, sem registro, e me falou o valor do salário, simplesmente o dobro do que eu então ganhava. Me deu seu cartãozinho com o endereço do Escritório e me disse para entrar em contato na semana seguinte. Isso mexeu demais comigo.  Porque pensei nas necessidades financeiras de minha família naquele momento.  

Então eu orei e jejuei como fazia naquela época para tomar as decisões corretas, e resolvi continuar com os papéis do chamado missionário. Sequer contei para minha família sobre esse convite, guardei tudo só pra mim, até joguei fora o cartãozinho dele. E por sorte, ele não havia anotado meu contato, só sabia meu primeiro nome. Pensei comigo então, ele não sabe meu nome, nem meu endereço, simplesmente não vou aparecer lá. A oferta que ele me fez era ótima para quem estava saindo do serviço militar, prestes a completar 20 anos. Creio que hoje em dia os especialistas em network diriam que foi uma péssima decisão não ter ido ao menos conversar com ele. Eu achei que ele iria esquecer isso, vai contratar alguém e vai esquecer.  

Então fui para a missão que foram 2 anos maravilhosos.  

Mas o que aconteceu quando eu terminei a missão e voltei pra casa, foi muito interessante também. Depois de um mês procurando emprego, fui contratado na Associação Comercial e Industrial de Araraquara. Como eu não tinha muita experiência como escriturário, o Presidente da ACIA, tio Aparício Dahab me propôs fazer um trabalho externo, tipo “vendas”, aproveitando a experiência que tinha adquirido no campo missionário. O trabalho que eu tinha que fazer era visitar pequenos estabelecimentos comerciais e inscrever novos associados para a ACIA, para gerar um aumento de arrecadação mensal. Como parte dos benefícios incluídos oferecido ao novo associado e sua família havia um pequeno seguro de vida em grupo. A Cia Seguradora (Bandeirantes) me pagava a primeira mensalidade a título de comissão, que somado ao meu salário (mínimo) foi me mantendo nessa época tão difícil. E acima de tudo, eu estava aprendendo o negócio do ramo de seguros, me envolvendo nesse meio profissional. 

E aí vem o desfecho disso tudo! Vender seguro era a proposta do Sr. Henrique Genari lá dois anos e pouco atrás. E vejam que interessante novamente entra na minha vida o mesmo senhor Genari, agora em agosto de 1979. Em visita a ACIA, ele soube que havia alguém novo inscrevendo novos associados e vendendo Seguro para uma concorrente dele, a Cia Seguradora Bandeirantes e resolveu falar comigo. Ele não se lembrou de mim. Agora ele já não era mais da Paulista de Seguros, mas sim gerenciava a Sucursal de uma multinacional italiana, a Generali do Brasil. Novamente ele me convidou para trabalhar com ele. Pude ver que ele não se lembrava de mim, mas eu me lembrava dele, e o Pai Celestial lembrava de nós. Graças a esse convite que aceitei de imediato, fui para a Generali com o pomposo cargo de Inspetor de Vendas, e a partir dali eu comecei uma carreira rentável na área comercial, a qual me manteve a vida toda, trabalhando em grandes e médias empresas. O senhor Genari, já bem idoso à época, trabalhou com seguros até o fim da vida, mais de 90 anos, nem desconfiava de que foi o instrumento nas mãos do Senhor para ajudar um jovem missionário retornado, primeiro me dando uma tentação, e depois me oferecendo uma abençoada oportunidade.  

Enfim, Deus cuida dos menores dos Seus. Aceitar servir missão me trouxe bençãos eternas que eu nem imaginava, as quais continuo desfrutando ainda hoje. E espero que continue pelas eternidades. 

 

 

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