Monday, February 27, 2023

COMO RETER A REMISSÃO DOS PECADOS

 


Reter a remissão dos pecado


Poderá parecer a alguém um visão rasa, superficial, mas para mim é uma chave que abre o entendimento espiritual sobre como o Senhor nos perdoa. Deus sempre soube que nessa vida mortal todos nós cometeríamos pecados, tropeçaríamos em nossos erros e nasceríamos com fraquezas a serem vencidas. Ele também sabia que não teríamos como superar tudo isso sozinhos, por nós mesmos. Deu estabeleceu portanto o Plano de Salvação, onde a remissão de nossos pecados é a forma de nos qualificarmos para voltar a viver perante Ele.

Sem maiores pretensões, vou expor agora aqui um importante entendimento que ganhei no decorrer dos últimos anos sobre a remissão dos nossos pecados. 

Compreensão essa, que me leva a crer que devemos sempre buscar um equilíbrio entre a doutrina da Graça, geralmente mal entendida pelo mundo cristão, e nossos próprios esforços para nos achegarmos a Deus em busca do perdão.  Creio também que a mola propulsora para se reter a remissão dos pecados é viver de modo perfeitamente cristão, e também pode e deve ser a apoiada na GRATIDÃO que sentimos a Deus por nos haver redimido, conforme direi mais ao final.

Começo citando um versículo da epístola de Mórmon a seu filho Moroni, que foi o momento chave que me despertou para esse tema,  alguns anos atrás:

-  Moroni 8:25 "E o primeiro fruto do arrependimento é o batismo; e o batismo vem pela fé, para cumprirem-se os mandamentos; e o CUMPRIMENTO DOS MANDAMENTOS TRAZ REMISSÃO DOS PECADOS."

Nessa passagem vi pela primeira vez com clareza que a remissão dos pecados não provêm da singela cerimonia do batismo, como costuma se pensar. Vai muito além disto, e pressupõe uma ativa participação de cada um de nós. Tanto na busca sincera do perdão, quanto no esforço para viver segundo o exemplo de nosso Salvador Jesus Cristo.

 Para corroborar essa ideia, cito também D$C 76:52 onde o Senhor descreve os que herdarão o Reino Celestial: "Para que, guardando os mandamentos, fossem lavados e purificados de todos os seus pecados ..."

Nos dois versículos acima, (sem esquecer de fé, arrependimento e batismo); fica claro que GUARDAR OS MANDAMENTOS é o caminho para se obter a remissão dos pecados. Sei que existem outros aspectos importantes sobre como se obtêm a remissão dos pecados, mas o principal se encontra em Mosías 16:15 "Ensinai-lhes que a redenção é alcançada por meio de Cristo, que é o próprio Pai Eterno."

O ponto crucial que pretendo mostrar hoje foca no que devemos fazer para RETER A REMISSÃO DOS PECADOS. Só de ler esse termo RETER dá para entender que  nem sempre, nem todos, após obterem esse perdão da Remissão conseguem a manter para sempre, ou em outras palavras RETER A REMISSÃO DOS PECADOS.

E o que as Escrituras nos ensinam sobre isso?

Vou iniciar com as palavras do Rei Benjamim em seu esclarecedor discurso sobre a Expiação, em Mosías 4, conforme abaixo:

 - vers 11 ... como haveis adquirido conhecimento da glória de Deus, ou seja, se haveis conhecido  sua bondade, experimentado seu amor, e recebido a remissão de vossos pecados, o que causa tão grande alegria a vossa alma, ....

- vers 12 "E eis que vos digo que, se fizerdes isso, sempre vos regozijareis e estareis cheios do amor de Deus e conservareis sempre a remissão de vossos pecados; 

- vers 26 "E agora por causa das coisas que vos disse - isto é, para conservardes a remissão de vossos pecados, dia a dia, afim de que andeis sem culpa perante Deus - quisera que REPARTISSEIS VOSSOS BENS COM OS POBRES, cada um de acordo com o que possui, ALIMENTANDO os famintos, VESTINDO os nus, VISITANDO os doentes e ALIVIANDO-LHES o sofrimento, tanto espiritual como materialmente, conforme as carências deles

Também o  Profeta Alma ensina sobre isso,  logo depois de haver batizado milhares e estabelecido a Igreja na terra de Zaraenla, teve que enfrentar um onda de iniquidade entre grande parte do povo da Igreja, que se  tornaram orgulhosos, e deixaram de guardar os mandamentos. No capítulo 4 do livro de Alma, versículos 12-14 temos um descrição detalhada desse processo:

Alma 4:12 Sim, viu  grande desigualdade entre eles, alguns se enchendo de orgulho, desprezando os outros, virando as costas aos necessitados e aos nus e aos famintos e aos sedentos e aos doentes e aflitos.

Alma 4:13 Ora, isso era um grande motivo de lamentação para o povo, enquanto outros se humilhavam, socorrendo os que tinham necessidade de seu socorro, repartindo seus recursos com os pobres e necessitados, alimentando os famintos e sofrendo toda espécie de aflições por amor a Cristo que haveria de vir, segundo o espírito de profecia.

Alma 4:14 Aguardando ansiosamente aquele dia, CONSERVANDO ASSIM A REMISSÃO DE SEUS PECADOS;   estando cheios de grande alegria por causa da ressurreição dos mortos, de acordo com a vontade e poder e libertação de Jesus Cristo das ligaduras da morte.


Ainda no Livro de Mórmon - Outro Testamento de Jesus Cristo no livro de Jacó, capítulo 2 o Profeta Jacó admoesta com severidade: 

Jacó 2:17 Pensai em vossos irmãos como em vós mesmos; e sede amáveis para com todos e liberais com vossos bens, para que vossos irmãos sejam ricos como vós.

Jacó 2:18 Mas antes de buscardes riquezas, buscai o reino de Deus.

Jacó 2:19 E depois de haverdes obtido uma esperança em Cristo, conseguireis riquezas, se as procurardes; e procurá-las-ei com o fito de praticar o bem - de vestir os nus e alimentar os famintos e libertar os cativos e confortar os doentes e aflitos.

Portanto, eu pude aprender com isso que, o Senhor oferece oportunidade a todos, tanto aos que são ajudados pela bondade de outrem, como aos que ajudam, pois assim  se aproximam muito do caráter e dos atributos de Jesus Cristo. 

A bondade é a grande virtude que precisamos (ou preciso eu) desenvolver nessa vida. Podemos orar para o Senhor nos dotar de mais bondade do que já temos, ou mesmo se não a temos. 


Friday, February 24, 2023

REVELAÇÃO PESSOAL - A EXPIAÇÃO DE CRISTO EM MINHA VIDA

    REVELAÇÃO PESSOAL - A EXPIAÇÃO DE CRISTO EM MINHA VIDA


Creio que seja importante pra minha família conhecer um pouco do processo que eu passei nos últimos anos, o que isso me trouxe de crescimento, e como cheguei a ser readmitido na Igreja através do batismo no dia 05 de outubro ultimo. Este relato é um testemunho de que Deus ouve nossas orações e nos dá revelações em resposta.

Não vou me alongar sobre os motivos que me levaram a ser, com toda justiça, excomungado da Igreja em Outubro de 2016. Também devo dizer que entendi que não era apenas a justiça, esse Conselho Disciplinar foi também um ato de amor de Deus por mim Foram seis longos anos de sofrimento para minha esposa, e creio que também para os filhos, além de eu mesmo. Mas devo esclarecer que não foram apenas esses seis anos, isso foi apenas a ponta do iceberg, pois eu já vinha antes, de outros vinte anos de agonia, iniciados em 1996, onde eu era, ora pressionado pela consciência, ora anestesiado pelos cuidados da vida, e principalmente sofrendo pela falta de coragem de confessar perante minha família, e também perante a Igreja. 

Aliás a questão da falta de humildade em reconhecer o erro, confessa-lo e abandona-lo mereceria uma reflexão a parte.  Sem me alongar mesmo, basta nesse relato reconhecer que foi o orgulho, e uma falsa sensação de ser imune ou superior as tentações, uma falsa segurança fora da barra do evangelho, que me levaram a pecar.  Nas duas vezes em que precisei ser formalmente disciplinado, ou "castigado" conforme D&C 95:1-2 eu falhei em procurar o perdão e o amor do Senhor, e em ambas as vezes, tive que ser denunciado. O que no fundo foi um alivio para quem não tinha coragem de enfrentar por iniciativa própria as consequências da confissão.

Vamos falar um pouquinho do que foram esses seis anos, de Outubro de 2016 a Outubro de 2022. É difícil achar as palavras corretas para descrever o que passei, os sentimentos todos, na busca do auto conhecimento, tentando entender como eu havia cedido às tentações, mesmo tendo um razoável conhecimento e testemunho, além de sagradas experiências espirituais. A maior parte do tempo estive num processo interior de negar que eu serviria para habitar na presença de Deus. Este foi o principal sentimento que me dominou nesses seis anos. Sempre que eu refletia, chegava a mesma conclusão: eu não me encaixo, não sirvo para o Reino Celestial depois de tudo o que eu fiz. Como também me sentia indigno de participar junto aos irmãos da Igreja, pois sabia que eles, mesmo tendo sofrido tentações, não cederam.  

Por outro lado, com o passar do tempo aos poucos foi surgindo também um sentimento de que eu estava buscando me purificar, e ia completando meses e anos longe do pecado. Eu já até odiava o pecado, assim como, de uma certa forma odiava a mim mesmo. Mas tudo isso ainda era muito inconstante, ora buscando o Senhor, e ora desistindo de mim. E nesses altos e baixos, depois de uma boa entrevista com o nosso bondoso Presidente da Estaca, Otavio Martins, fui convocado para o Conselho de Membro, que é como se denomina atualmente o Conselho Disciplinar da Igreja no dia 26 de Janeiro de 2022. A decisão bondosa dos irmãos do Conselho foi recomendar minha readmissão na Igreja pelo batismo. Fiquei muito animado com isso, e me coloquei a aguardar ansiosamente a data a ser marcada pela Estaca de acordo com a liberação da sede da Igreja.

E essa espera foi um período extremamente difícil e angustiante, porque os meses se passaram e nada de chegar a autorização. Eu nem dormia direito nessa época. Minha esposa me cobrando porque eu não procurava saber a razão da demora. Eu sentia, como ela também, que a razão da demora deveria estar dentro de mim mesmo. Até que um dia, (12 de setembro) uma noite aliás, sem conseguir dormir mandei uma mensagem para o Presidente Otavio por volta de 3 da manhã pedindo para falar com ele. Ele me recebeu na mesma semana, e tivemos uma excelente conversa sobre minha situação, as consequências e  tudo mais. E ele me garantiu que não havia nada de errado, apenas tínhamos que aguardar. O sistema da Igreja é totalmente informatizado, e nem tem a quem perguntar diretamente. Mas que ele achava que estava tudo certo, era apenas aguardar. Aguardar o tempo do Senhor.

Passadas umas duas semanas desta entrevista, eu na mesma situação pendular, ora esperançoso, ora desesperado, e chegou o fim de semana da Conferencia Geral da Igreja de Outubro de 2022. Quando eu assistia os vídeos que agora passam antes das Sessões propriamente, uma jovem missionária disse algo mais ou menos assim: "Traga suas duvidas para a Conferencia que Deus certamente as responderá!" 

E isso me tocou, resolvi então fazer uma oração, e fiquei em espirito de oração, com uma prece no coração durante toda a Conferencia. E levei a minha duvida ao Senhor: eu poderei ser batizado? Terei nova oportunidade como membro de Sua Igreja? Quando será ?

Inclusive acho que foi um das únicas vezes em que assisti a todas as sessões da Conferencia Geral.

E a resposta dos céus veio a mim durante o maravilhoso discurso do Presidente Russel M Nelson, uma mensagem de dezoito minutos que mudou minha vida: VENCER O MUNDO E ENCONTRAR DESCANSO. Me impactou tanto que já o li e reli muitas vezes desde então!

Enquanto ouvia maravilhas do amor e bondade de Deus, ampliando meu entendimento da doutrina da Expiação, que através de "Sua Expiação Infinita, Ele redimiu cada um de nós de nossas FRAQUEZAS, DE NOSSOS ERROS E DO PECADO". Nesse exato momento eu senti pela primeira vez que eu estava pronto para ser rebatizado. Senti isso forte em meu coração e em minha mente com muita clareza. Eu disse para minha Querida Esposa imediatamente assim que acabou a Sessão de Domingo de Manhã 2 de outubro: "Senti que vou ser rebatizado, a Estaca em breve vai me contatar para isso". 

No dia 4 de outubro, terça feira seguinte o irmão Willian Fragoso, secretario da Estaca me contatou pelo WhatsApp me informando que eu já podia agendar o meu batismo, que estava autorizado. 

Agendei com o Bispo, e com a preciosa ajuda de todos, fui batizado no dia seguinte, 5 de outubro na mesma pia batismal da Capela da Ala 1 onde eu fora batizado 50 anos atrás. 

Como é maravilhoso o modo que o Senhor age, pois durante o discurso do Profeta, eu soube que meu batismo ocorreria logo, mas nem imaginava que pudesse ser tão logo assim. Apenas 2 dias úteis depois da Conferencia eu estava sendo comunicado. Me parece que o encerramento do processo eletrônico pode ter se dado na segunda feira, dia 3, no dia 4 fui notificado, e dia 5 estava sendo batizado.

Agora, sei que isso não conclui nada, pois ainda tenho um longo caminho a percorrer como aprendiz de discípulo de Jesus Cristo. Preciso permitir que Ele participe de minha vida, do meu dia a dia. E isso é exatamente o contrario do que eu sempre acreditei (e agi) como se Deus tivesse nos dado o livre arbítrio e quisesse então ver como nos sairíamos nas provações. Mas Ele não que ficar assistindo. Ele pede para participar. Essa é a essência das ultimas mensagens do Presidente Nelson. Para um cabeça dura como eu, será uma longa jornada.  Mas estou aprendendo a buscar a ajudar de CRISTO para vencer a minha própria natureza, e aproveitar bem a experiência na mortalidade para melhorar, voltar a presença dEle melhor do que sai um dia. Custou muito para eu entender que não é possível por mim mesmo eu conseguir vencer o mundo.  Me lembro bem de muitos momentos na missão e na vida em que me deparava com pessoas que simplesmente não entendiam que precisavam ser salvas por Cristo. Nem do que precisavam ser salvas. Ou perdoadas.  Eu sempre refletia sobre isso, quando no fundo nem eu mesmo sabia como isso se daria. Sempre chegava próximo do Senhor em boas experiências espirituais, com revelações pessoais inclusive, mas não me aprofundava, ficava meio na superficialidade.  

Tenho que agradecer a Deus por haver renascido a esperança dentro de mim. Devo registrar que foi o Sacrifício Expiatório de Jesus Cristo que me trouxe essa esperança, literalmente me resgatou.  

 A quem ler, saiba que estou postando aqui meu testemunho pessoal sobre nosso Salvador, o Autor de nossa salvação, criador dos céus e da terra, o Senhor Jesus Cristo.


Friday, February 10, 2023

MEU CHAMDO MISSIONÁRIO

 MEU CHAMADO MISSIONÁRIO 

 

Gostaria de compartilhar as experiências relativas a meu chamado missionário, minha ida ao campo missionário e a volta para casa. 

É importante frisar que, desde o meu batismo em março de 1972, eu sempre soube que iria um dia fazer uma missão. Sempre participava da obra missionária, dividindo com os Élderes do nosso Ramo, e assim fui me afeiçoando ao trabalho missionário. Logo que completei 18 anos, no início de 1975 tive o privilégio de ouvir da voz do Profeta Spencer W Kimball, na primeira Conferência de Área no Brasil, o chamado, ou convite, ou talvez desafio para todos os rapazes presentes, que servissem uma missão de tempo integral. Eu senti nisso a confirmação de deveria servir missão. Mas também era o momento do meu alistamento no serviço militar obrigatório. No caso aqui em Araraquara, era o Tiro de Guerra (TG 02-006) e eu resolvi procurar o Tenente responsável pela Junta de Alistamento Municipal, e pedi dispensa, expliquei que estava me preparando para servir uma missão da minha Igreja por 2 nos. Disse a ele que eu desejava sair em missão no ano seguinte, (1976) quando faria 19 anos, dei mais alguns detalhes de como funciona o sistema missionário da Igreja, e não me recordo de ele ter sequer se interessado por quaisquer detalhes! Após me ouvir educadamente, a resposta dele para mim foi mais ou menos esta: “Olha meu jovem, se eu liberar você, quem eu pôr no seu lugar? Algum cara que não tem nem porte físico para segurar uma arma?” Ele deve ter dito aquilo baseado na minha aparência, pois eu não era nenhum atleta, apenas um cara alto de razoável aparência.  

E assim, isso sepultou minha idéia de sair no início de 1976, porque teria que aguardar ser incluído no Tiro de Guerra antes de pensar em sair para a missão. Naquele tempo o Tiro de Guerra era de 6 meses de duração, então ainda teria a chance de servir o Tiro no primeiro semestre de 76, e entrar no campo missionário no mesmo ano, depois de Junho, quando daria baixa. 

Mas aí vem a primeira surpresa – meu irmão Mário que é mais novo um ano que eu, tinha 17 anos, mas tinha o direito de se alistar como VOLUNTÁRIO por ser Universitário, estava no primeiro ano de Engenharia, e assim ganhar tempo para sua vida profissional. Sem que eu soubesse ele se alistou na mesma época que eu, e foi inscrito para servir no primeiro semestre como era o costume no caso de Voluntários. Em consequência disso eu fiquei para o segundo semestre de 1976, então a ansiedade por sair em missão só aumentava, porque agora eu sabia que só poderia sair em 1977.  

Então aconteceu uma nova surpresa, logo no início de Julho, eu mal começara o Serviço Militar, e uma provação dificílima se abateu sobre nossa família. Meu pai adoeceu, foi internado, diagnosticado com câncer na cabeça, foi operado, fez radio terapia e faleceu em exatos 28 dias, desde a internação. Foi um desfecho muito rápido e um choque para nossa família. Mas eu pude ver depois a sabedoria e bondade do Senhor, pois se eu estivesse no campo missionário, vindo meu pai a falecer, ia ser um abalo muito maior para mim, para minha mãe e meus irmãos. Nem sei se conseguiria ir até o fim e terminar a missão.  

Eu era o mais velho dos 4, tinha além de mim e do Mário, o segundo, mais 2 irmãos menores, o Carlão de 14 anos e o Antoninho de 8. E como eu e o Mário trabalhávamos, a gente ajudava um pouco em casa, não com tudo que ganhávamos, mas já aliviava um pouco, e também não precisavam gastar tanto comigo e com ele.  

Porém agora com a morte de meu pai, isso tudo mudou. Iríamos precisar de cada tostão para dar conta das despesas da casa. Nessa época minha rotina era das 6h da manhã até as 9h fazer o Tiro de Guerra, depois ia pro trabalho, onde saia as 18h e entrava na escola as 19h até as 23h mais ou menos. Nossa vida era isso, a gente tinha força e nunca reclamava de nada. 

Mas estava ficando cada vez mais difícil manter a meta de ir para a missão. Quando terminei o serviço militar, em dezembro de 76, a situação financeira em casa estava bem mais difícil. E se eu parasse de trabalhar para ir pra missão, seria uma renda a menos em casa. Minha mãe ficara com a aposentadoria do meu pai, que era pedreiro, então não era uma aposentadoria enorme. E o que ela poderia fazer, viúva com 4 moleques para cuidar? Aconteceu então que minha mãe precisou trabalhar para fora. E o que ela conseguiu fazer, foi lavar roupa e passar, pois morávamos próximo ao centro da cidade, e tinha uma grande vizinhança dos prédios que nos conheciam.  

Então nesse ponto da vida, em Dezembro de 1976 dei baixa no Tiro de Guerra, fiquei tomado de preocupações sobre sair para a missão. Eu realmente tinha o desejo de ir, era um sentimento que eu nutria há anos, porém eu não tinha coragem de falar isso para minha mãe e meus irmãos. Me sentia como se eu estivesse impondo minha vontade pessoal acima das necessidades da nossa família.  

Nosso Presidente do Ramo, irmão Chrispim foi lá em casa falar com ela o que eu mesmo não tinha coragem de falar. E ele saiu daquela visita lá em casa, me chamou e falou para eu continuar a preparação dos papéis e tudo mais para sair em missão. Continuei me preparando, todo mundo lutando. Nossa família sempre foi muito lutadora, de origens humildes. Minha mãe ficou órfã muito cedo, aprendeu a trabalhar desde criança, então isso era bem normal em nossa família e não era nenhum sofrimento adicional para ninguém de nossa casa.  

Só era um sentimento ruim para mim, de estar deixando de colaborar financeiramente num momento crítico para minha mãe. 

Para encurtar um pouco essa parte, minha família sobreviveu muito bem sem mim! Meus irmãos continuaram estudando, o Mario firme no trabalho e na faculdade, o Carlão começou a frequentar a igreja, se batizou, embora não tenha ficado firme, arrumou um trabalho, passou a estudar de noite e a vida tocou. Minha família nunca precisou de ajuda financeira da Igreja. Minha namorada da época, minha esposa eterna, sempre os visitava e testemunhava como o Senhor abençoava a todos com muita saúde, muito trabalho e com o ganho suficiente para manter o padrão que tínhamos quando meu pai era vivo.  

Mas então aconteceu uma coisa muito interessante, em dezembro de 1976 enquanto estava no estágio de preencher o chamado missionário, fui surpreendido por uma nova situação, um desafio e tanto! Um conhecido meu, de uma oficina mecânica, me apresentou um cliente seu que estava lá. Eu não o conhecia, era o Gerente do Escritório Regional da Cia Paulista de Seguros. Esse senhor, que vim a conhecer melhor depois, se chamava Henrique Genari me convidou para trabalhar na Seguradora com ele. Me disse que eu seria registrado, ele sabia que eu estava fazendo bico na loja do Presidente do Ramo, sem registro, e me falou o valor do salário, simplesmente o dobro do que eu então ganhava. Me deu seu cartãozinho com o endereço do Escritório e me disse para entrar em contato na semana seguinte. Isso mexeu demais comigo.  Porque pensei nas necessidades financeiras de minha família naquele momento.  

Então eu orei e jejuei como fazia naquela época para tomar as decisões corretas, e resolvi continuar com os papéis do chamado missionário. Sequer contei para minha família sobre esse convite, guardei tudo só pra mim, até joguei fora o cartãozinho dele. E por sorte, ele não havia anotado meu contato, só sabia meu primeiro nome. Pensei comigo então, ele não sabe meu nome, nem meu endereço, simplesmente não vou aparecer lá. A oferta que ele me fez era ótima para quem estava saindo do serviço militar, prestes a completar 20 anos. Creio que hoje em dia os especialistas em network diriam que foi uma péssima decisão não ter ido ao menos conversar com ele. Eu achei que ele iria esquecer isso, vai contratar alguém e vai esquecer.  

Então fui para a missão que foram 2 anos maravilhosos.  

Mas o que aconteceu quando eu terminei a missão e voltei pra casa, foi muito interessante também. Depois de um mês procurando emprego, fui contratado na Associação Comercial e Industrial de Araraquara. Como eu não tinha muita experiência como escriturário, o Presidente da ACIA, tio Aparício Dahab me propôs fazer um trabalho externo, tipo “vendas”, aproveitando a experiência que tinha adquirido no campo missionário. O trabalho que eu tinha que fazer era visitar pequenos estabelecimentos comerciais e inscrever novos associados para a ACIA, para gerar um aumento de arrecadação mensal. Como parte dos benefícios incluídos oferecido ao novo associado e sua família havia um pequeno seguro de vida em grupo. A Cia Seguradora (Bandeirantes) me pagava a primeira mensalidade a título de comissão, que somado ao meu salário (mínimo) foi me mantendo nessa época tão difícil. E acima de tudo, eu estava aprendendo o negócio do ramo de seguros, me envolvendo nesse meio profissional. 

E aí vem o desfecho disso tudo! Vender seguro era a proposta do Sr. Henrique Genari lá dois anos e pouco atrás. E vejam que interessante novamente entra na minha vida o mesmo senhor Genari, agora em agosto de 1979. Em visita a ACIA, ele soube que havia alguém novo inscrevendo novos associados e vendendo Seguro para uma concorrente dele, a Cia Seguradora Bandeirantes e resolveu falar comigo. Ele não se lembrou de mim. Agora ele já não era mais da Paulista de Seguros, mas sim gerenciava a Sucursal de uma multinacional italiana, a Generali do Brasil. Novamente ele me convidou para trabalhar com ele. Pude ver que ele não se lembrava de mim, mas eu me lembrava dele, e o Pai Celestial lembrava de nós. Graças a esse convite que aceitei de imediato, fui para a Generali com o pomposo cargo de Inspetor de Vendas, e a partir dali eu comecei uma carreira rentável na área comercial, a qual me manteve a vida toda, trabalhando em grandes e médias empresas. O senhor Genari, já bem idoso à época, trabalhou com seguros até o fim da vida, mais de 90 anos, nem desconfiava de que foi o instrumento nas mãos do Senhor para ajudar um jovem missionário retornado, primeiro me dando uma tentação, e depois me oferecendo uma abençoada oportunidade.  

Enfim, Deus cuida dos menores dos Seus. Aceitar servir missão me trouxe bençãos eternas que eu nem imaginava, as quais continuo desfrutando ainda hoje. E espero que continue pelas eternidades.