Saturday, December 30, 2006

TELE SANTANA 1931-2006

TELE SANTANA 1931-2006
Ta na hora de rever meus conceitos!! É exatamente o que eu teria pensado em Julho de 1994, logo após a insonsa conquista da Copa pela equipe do Carlos A. Parreira. Como a referida frase ainda não era famosa, tratei de me por a rever meus conceitos, sem frase de efeito mesmo.
E, numa pouco elaborada conclusão, decidi: ‘Eu odeio o Telê Santana, ele me enganou em 82 e 86. Primeiro, me encantou com um time magnífico, jogando um futebol-arte, para depois me decepcionar, e ter que engolir a grossura italiana e a arrogância portenha ganhar os dois sonhados canecos.”
E, só cheguei a este rebuscado raciocínio após ver a limitadíssima equipe do Parreira levantar o título nos EUA em 1994. Achei que o Parreira tinha conseguido o impossível: ensinar os brasileiros a ganhar sem jogar bonito. E, de uma certa forma, foi exatamente que aconteceu. Até então só havíamos ganho algum campeonato mundial jogando excepcionalmente bem. Nas conquistas anteriores, o Brasil demonstrara estar em um nível acima dos demais. Mas desta vez ganhamos como ganha uma Itália, uma Argentina, ou pior ainda, como ganha uma Inglaterra ou uma Alemanha meio pugilato, meio futebol..
Para minha surpresa, e de muitos puristas torcedores brasileiros, o Brasil ganhou um título jogando um futebol mediano. Soube se impor com muita garra, mas demonstrar garra, isto não era novidade, já havíamos feito isto em 62. Porém apesar de toda garra e estratégia, em algumas partidas, ficamos no mesmo nível técnico dos adversários. Eis que, surge para nós brasileiros, uma novidade: ser campeão com um time mediano. Com um único destaque em campo: Romário. Exatamente como já tínhamos visto nossos adversários fazerem, ou seja, armar um time forte e depositar suas esperanças em um único craque. A Argentina de Maradona, a Itália de Roberto Baggio, a Alemanha de Mathaus são alguns exemplos típicos.
E isto me leva a refletir, e tentar uma ousadia: ordenar na mente os diferentes tipos de seleções que já vi em campo!!!
E de cara, dá até para separar em algumas categorias:

Primeiro tipo: jogando bonito, mas perdedora, as de 82 e 86 nas mãos do mestre Telê.

Segundo tipo: jogar bonito e perder de si mesma, já se sabia da equipe de 50. Posando com a faixa de campeã antes da hora, deu chance para o time mediano do Uruguai se superar e arrancar um resultado histórico em pleno Maracanã. Foi o maior feito dos uruguaios, superar exatamente uma equipe altamente técnica, com jogadores clássicos, um feito tal, que a Celeste jamais o repetirá, seja contra quem for.

Na outra ponta do arquivo, devo colocar a categoria “Jogando feio e merecidamente derrotada” e, nesta, a de 90 é disparada o maior exemplo. Medíocre, na exata medida da palavra.

Bem, voltando ao assunto, a lição da Copa 94 do Professor Parreira, filho da D. Geni, torcedora tardia, me fez odiar o Tele e tudo que ele representava. Em parte, talvez porque todos os anos de triunfo dele no Palmeiras, no São Paulo e no Atlético coincidiram com os piores anos do meu Santos. No ocaso da era Pelé, quando éramos humilhados por todos, desde a plebe corintiana comandada por um santista de coração, Dr. Sócrates; passando pelo efeito Zico no Rio; Falcão, Batista (precursor do Dunga) no Sul, enfim uma época de trevas para os órfãos do Rei Pelé.
E passei então a nutrir um certo desprezo pelo pensamento do Mestre Telê, futebol-arte uma ova. O que interessa é ganhar. Jogar bonito vem em segundo plano.

E o que Mestre Telê tem a ver com tudo isto?
Talvez seja ele o último inocente a praticar futebo-arte. Morre com ele a ultima tentativa romântica de ganhar jogando maravilhosamente. Parreira e principalmente Felipão ganharam jogando com eficiência. No caso do Felipão com muito mais qualidade graças ao material humano que convocou, e com alguma beleza, pois também trabalhou privilegiando a eficácia antes da beleza.
E como não cheguei a ver Telê em campo, como jogador, o Fio da Esperança da torcida do fluminense, não posso ter certeza de sua qualidade técnica, mas suspeito que devia ser limitado.
Porque tornou-se quase uma regra no Brasil: jogadores nível perna-de-pau tornam-se grandes técnicos. Exemplos mais evidentes: Luxemburgo, Felipão, Parreira (amador) e tantos outros medíocres ex-jogadores, que como técnicos maravilharam o Brasil.
Já o contrário é uma verdade inconteste: craques raramente repetem o brilho como técnicos, provavelmente pela falta de paciência, ou talvez ainda por não entender como é que seus comandados não conseguem colocar a bola onde eles indicam. Falcão, Pelé, Maradona, Rivelino, Gerson, Tostão, Nilton Santos, Junior, Sócrates, e outros mil. Zico talvez seja a exceção, mas só vou acreditar quando ele tiver a coragem de assumir o comando do seu Mengão. Afinal, fazer algumas peripécias no Japão não qualifica ninguém.
Daí que só posso concluir que o Mestre Telê não deve ter sido nenhum craque de bola. Não sei ao certo se chegou a ser convocado para a Seleção, mas ás Copas dos anos 50/60 acho que não foi. E conto ainda com a emburrada opinião do meu caro avô Pepê que dizia na época: “quem não tem Pelé joga com um Telê mesmo”, ou algo parecido.
Mas que é mais gostoso jogar bonito é. E, se ganhar, então é a perfeição. E foi isto que Tele buscou sempre: a perfeição. Talvez não tenha atingido a sua como técnico. Mas foi extremamente coerente e perseverante na sua busca pela perfeição. Talvez o grupo que reuniu na época não estava á altura das expectativas dele, nem das nossas. Talvez tenha acreditado demais no estilo anti-atleta do bebum Sócrates, no coração do moleirão Cerezo, na elegância do Falcão, e todos eles falharam com o Velho Mestre. O deixaram na mão em pleno Sarriá.
Olhando apenas do ponto de vista absolutamente racional, nem dá pra entender direito a razão que o levou a aceitar uma segunda tentativa em 86.
Mas quem sou eu pra defender a racionalidade, sendo neto de calabrês?
Só acho que ficou um pouco pesado demais para ele agüentar o fardo de 2 fracassos consecutivos, aturar o triunfo alheio, quando sabia ter em casa tal fartura de talento...

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