Sunday, October 02, 2011

Vô ANGELO BELOTTI (1904 - 1942)


A família Belotti reside numa casinha rural bem próxima ao núcleo urbano de Tabatinga (SP). Angelo Belotti, nascido em Jau (SP) em 1904, filho de imigrantes italianos, Giácomo e Antonia Belotti, juntamente com sua esposa Rosa de Jesus, filha de imigrantes portugueses e nascida em 1910 em Ribeirão Preto, criam seus 5 filhos com o trabalho agrícola, na propriedade rural que ele divide com seus irmãos. Minha mãe, MERCEDES BELOTTI, a caçula, completou 5 anos em janeiro. Está indo tudo bem com a família, a luta é difícil, mas, recompensadora, pois a família é unida, feliz.
Resolvi escrever sobre a morte de meu avô ANGELO, pelo exemplo que sua vida, breve, sempre representou para mim. Desde criança eu convivo com esta história, contada, relembrada, sempre mostrando um lado de heroísmo, do sacrifício de um individuo em beneficio da comunidade familiar. Poucos anos atrás, em visita ao meu Tio PAULO BELOTTI em Garça (SP), ele me confirma o que me havia sido contado por minha mãe, e acrescenta alguns detalhes, narrando com exatidão as cenas daquele dia, o último dia de vida do meu avô ANGELO. Não me sai da lembrança a expressão e o brilho nos olhos do Tio PAULO, ao me ouvir contando o relato que me fizera minha falecida mãe! Foi assim mesmo! Disse ele, depois acrescentando detalhes que hoje enriquecem este pequeno texto, minha homenagem à memória do Vô ANGELO.
No fim de um mais um dia de trabalho, meu avô ANGELO é avistado pelos filhos, ao longe, vindo em direção do lar, no dorso de seu cavalo, companheiro e ferramenta diária de trabalho.
A costumeira alegria de receber a volta do pai para casa, logo é substituída por preocupação, pois não demora muito para perceberem a postura dele, encurvado sobre o animal, com expressão de dor no rosto. Chegando em casa, ele conta que teve um problema durante o dia de trabalho. De imediato, eles despacham um dos filhos, acho o foi o Tio PAULO, mais velho dos dois meninos para Tabatinga, buscar ajuda. Apesar de ser uma jornada rápida, poucos quilômetros, fico imaginando, o que se passava na mente e no coração do menino, acabado de entrar na adolescência.
Naquele dia, meu avô construía junto com os irmãos uma casa, na propriedade da família, futura residência de um deles. Num determinado momento, eles precisaram erguer uma pesada madeira que iria servir de apoio central para o telhado, a viga central da casa. Ele assumiu uma das pontas, e pediu aos seus irmãos que erguessem a outra. E foi neste momento que ele sentiu uma dor aguda no abdômem. A chegada do médico na residência, Dr. Amarante, creio, (um nome muito presente ainda na minha infância em Tabatinga) traz o diagnostico - o que na época, se chamava de nó-nas-tripas. Um termo que englobava várias possibilidades, desde uma obstrução intestinal até apendicite.
Então é tomada a providencia mais recomendável, o paciente é enviado na manhã seguinte para a Santa Casa de Misericórdia de Araraquara, cidade a 58 km de Tabatinga, na época, um dos raros hospitais na região.
Passados mais 1 ou 2 dias, se encerra o breve período de internação na Santa Casa de Misericórdia de Araraquara, da mesma maneira se encerra a breve jornada mortal de meu avô materno, ANGELO BELOTTI - a quem não tive o privilégio de conhecer pessoalmente, mas cuja vida sem duvida exerceu grande influencia não apenas na vida de seus cinco filhos, como tambem nos muitos netos, bisnetos. Creio que faço o presente registro para que um dia seja lido pels gerações futuras, representadas em meu coração pela Sarinha, nossa primeira netinha, que deve nascer nos proximos dias.
Minha avó, ROSA então com 32 anos, e seus cinco filhos (ANGELINA, PAULO, MARIA, GERALDO, e MERCEDES, minha mãe) com idade entre 15 e 5 anos é chamada ao hospital, na esperança de ver o marido em vida, mas o que eles viram foi o corpo do pai estendido sobre uma mesa de pedra fria no Hospital. Depois o relato de ambos é focado na viagem de volta para Tabatinga, na carroceria de um caminhão da Prefeitura, a mãe, os cinco filhos sentados em volta do caixão com o corpo do esposo e pai. A tristeza da ultima jornada, até o Cemitério Municipal, trajeto feito por uma estradinha de terra, com uma subida íngreme, passando pela capelinha do Patrimônio. Eu consigo imaginar com muita fidelidade ambas as cenas. Afinal a ida ao cemitério era costumeira, tanto para sepultamentos quanto para visitas. E viagem em carroceria de caminhão aberta, na mesma estrada de terra fez parte da minha vida.
Eu não vi este falecimento pessoalmente, afinal eu só nasci 15 anos depois, mas escolhi escrever sobre ele, de tão vividas que me são todas estas imagens, com os emocionados relatos de meu Tio PAULO, e também o da minha mãe.
Como consequência do falecimento dele, minha avó mudou-se para a cidade de Tabatinga, onde comprou uma casa com os recursos que recebeu como pagamento pela parte do meu avô no sitio da família. Ela sempre contava que também recebeu algumas sacas de produtos da colheita daquela safra, para iniciar esta nova fase da vida da jovem família. Todos os filhos se envolveram no esforço pela sobrevivência da família, trabalhando duro desde muito cedo. Embora eu desconheça os detalhes, sei que o resultado final foi muito bom, pois minha mãe, assim como seus irmãos e irmãs foram todos bem sucedidos na vida familiar. Todos eles, sempre tinham um largo sorriso no rosto ao nos ver! Sempre encaravam a vida com alegria e otimismo.

1 comment:

Tatiana S. G. Santana said...

Tio, estou amando ler mais sobre sua história, seus pensamentos e memórias!! Adoro o modo como escreve! Beijos e beijos!!