Friday, January 19, 2007

POLITICA, PENSAMENTOS SOBRE Agosto de 2.006

De tanto ver triunfar a mediocridade, blá-blá-blá..........
Citar Rui Barbosa é o que me ocorre, para dar inicio a algumas linhas de comentários sobre a deplorável situação político-administrativa de nosso país.
Incoerência é o teu nome, Brasil.!!
Alguns anos atrás, um plebiscito enterrou a opção pelo Parlamentarismo, como se fosse para evitar um vírus exótico, mas... Mas na prática do dia-a-dia, o nosso Presidencialismo Messiânico usa, abusa e distorce alguns dos piores instrumentos do rejeitado Parlamentarismo. E está criada então (e aperfeiçoada) a versão tupiniquim da PROMISCUIDADE INTER-PODERES.
Executivo legislando abertamente, assumindo o controle quase total do Legislativo, que por sua vez quer mesmo é uma partilha da administração pública. As altas cortes do Judiciário, sujeitas a nomeação por canetadas do Executivo, sujeita-se a julgar em beneficio do patrão, situação horrível, que deveria ter sido enterrada junto com o entulho da Revolução-Não-Revolucionária de 64, mas que....
Bem, este assunto, por si só, pode gerar um capitulo explosivo, principalmente se analisado do ponto de vista da patrulha do politicamente correto. Nada é de simples solução, mas também não se pode simplesmente fugir do problema, e, pelo menos algumas sugestões caberiam neste contexto.
Considerando-se que os Promotores de Justiça, (o Ministério Público) assumiram importante papel a partir da Constituição de 88, cabe ressalvar então que, graças a sua independência, muito se fez pela melhora da moral publica. Praticamente trata-se da única instituição (ainda) isenta de escândalos. Pesar disto, já pariu excrescências diversas, com claros exageros, motivações dúbias, exemplo maior: Torquemada, o Curvo. Mas na balança das perdas e danos versus benefícios e ganhos, ainda é a mais confiável e a mais produtiva das instituições em favor da ética na administração publica.
Mas um dos casos defendido atualmente pelos Promotores mostra claramente que ninguém está isento de errar. Principalmente quando se escolhe jogar para a platéia. Refiro-me a quase infantil perseguição contra o numero de vereadores nas Câmaras Municipais. Com o olhar vesgo, focado apenas na face aparente das despesas geradas pelo numero de cadeiras, e principalmente ofuscado pelos excessivos refletores da imprensa, acaba por deixar de analisar com seriedade e eficiência o problema real.
Esta redução é um tiro no próprio pé da democracia, pois está reduzindo o numero de cidadãos envolvidos na condução dos assuntos de estado. Visando economizar algumas moedas, baixa o numero de cadeiras, como se este ato tivesse o dom de conferir qualidade aos que ficam, forçando um circulo de poder mais reduzido ainda. Talvez um dos mais nefastos efeitos disto é que os membros do legislativo, que desde sempre posam de UNGIDOS, passam a concentrar ainda mais poder de barganha.
Este poder de barganha, que deveria ser uma das melhores armas da democracia, quando usado em benefício próprio, torna-se o mais iníquo dos mecanismo de desvio da conduta de estado.
Buscando os holofotes da imprensa, os legisladores focam sua atuação ema assuntos menores, assumem condutas farisaicas do politicamente correto, e propositalmente escondem da massa de eleitores as diversas faces de cada assunto.
Mas o que pensam sobre isto os eleitores, os verdadeiros patrões de tais legisladores? Portam-se realmente como patrões? Ou pelo menos tem a noção da cidadania? Infelizmente é o contrário que acontece. É difícil entender quaisquer tentativas de explicações, por mais que se conviva no dia-a-dia do oprimido povo brasileiro. Parece um comportamento enraizado na cultura latina, reforçado por algum tipo de complexo de inferioridade terceiro-mundista. Não explica nem justifica. E, desta maneira, o patrão (eleitor) aceita passivamente o papel de VASSALO, abrindo mão da cidadania, através da outorga de poderes nas urnas. E aceita passivamente uma vassalagem absurda. Herança das muitas ditaduras, reinados, capitaneias, etc, etc..?? Contradição ridícula e cruel!!!
Problemas assim tão complexos requerem soluções igualmente elaboradas. Repensarmos a nossa democracia representativa é o minimo que se espera de nossa geração.
Temos experiência de pelo menos dois lados da questão: alguma prosperidade econômica sem liberdade politica, anos 60/70, logo substituida pela terrivel conjução sem-liberdade-e-sem-grana!!
Até desaguar na contradição da época atual onde gozamos democracia e liberdade politica e de expressão, sem porém nade de liberdade econômica. As mentes mais esclarecidas, tem a certeza de que nenhum dos dois sistemas tenha sido aplicado em benefício da população. Em ambas as situações os verdadeiros beneficiados foram setores da elite, frequentemente subservientes a grandes corporações transnacionais. E la nave vá.
REPENSANDO NOSSA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA

Thursday, January 18, 2007

FRASES FAMOSAS - Pérolas

"Dá-se muita atenção ao custo de se realizar algo. E nenhuma ao custo de não realizá-lo".
Philip Kotler - Consultor americano

"Todo amor é eterno. E se acaba, não era amor".
Nelson Rodrigues - Dramaturgo

"Duvidar de tudo ou crer em tudo, são duas soluções igualmente cômodas, que nos dispensam, ambas de refletir".
Henri Poincaré (1854-1912) - Matemático francês


"Nos processos de seleção, as empresas descartam os criativos e ficam com pessoas sem imaginação. Depois as mandam fazer cursos de criatividade".
Domenico De Mazzi - Sociólogo italiano

"A fábrica do futuro terá apenas dois operários: Um homem e um cachorro. Função do homem: alimentar o cachorro. Função do cachorro: não deixar o homem tocar nas máquinas".
Walter Block - Autor de Defending the Undefendable


"Há dois tipos de pessoas: As que fazem as coisas, e as que dizem que fizeram as coisas. Tente ficar no primeiro tipo. Há menos competição".
Indira Ghandi

"A ausência da evidência não significa evidência da ausência".
Carl Sagan - Astrônomo americano

"Parece impossível que numa grande lavoura cresça apenas uma touceira de trigo, e num universo infinito exista apenas um mundo habitado".
Metrodorus - Antigo sábio da ilha grega de CChios

"Qualquer pessoa pode zangar-se. Isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa; Isso não é fácil".
Aristóteles

"Imaginação é mais importante que inteligência".
Albert Einstein - Físico

"Aprender com a experiência dos outros é menos penoso do que aprender com a própria".
José Saramago - Escritor português

"Quando eu disse ao caroço de laranja, que dentro dele dormia um laranjal inteirinho, ele me olhou estupidamente incrédulo".
Hermógenes

Para ver mais: www.geocities.com/Paris/Opera/4700/

FRASES FAMOSAS Politicos

Sobre Política, ou sobre o que achamos que é politica:


"No regime democrático, todo partido devota todas as energias para demonstrar que os demais partidos não têm competência para governar. E todos eles estão certos".
Henry Louis Mencken (1880-1956) - Jornalista americano

"A economia compreende todas as atividades do país. mas nenhuma atividade do país compreende a economia".
Millôr Fernandes - Jornalista e escritor

"O brasileiro só tem três problemas: Café, almoço e jantar".
Chico Anísio - Humorista

"Não é o poder que corrompe o homem. O homem é que corrompe o poder"..
Ulisses Guimarães - ilustre rio-clarense

"Quando o emprego vira um luxo, o salário fica um lixo".
José Maria de Jesus - Bóia fria

Não existe país sub-desenvolvido. Existe país sub-administrado".
Dito popular

"Quem gosta de miséria é intelectual".
Joãozinho Trinta - Carnavalesco

"É preciso passar o país a limpo".
Boris Casoy - Jornalista (Frase que ficou famosa ao ser dita, principalmente, durante o desenrolar do caso Collor / PC)


"O Brasil não é um país sério".
Carlos Alves de Souza - Embaixador brasileiro em Paris em 1962
(Frase que era atribuída à Charles De Gaulle)

"Velho sim! Velhaco não!".
Ulisses Guimarães - 1992 (Em resposta ao presidente na época, Fernando Collor de Mello, que o havia chamado de "velho gagá")

"Um povo de cordeiros sempre terá um governo de lobos".
Dito popular antigo

"O Brasil tem os burocratas mais religiosos do mundo. Nunca assinam um contrato, sem antes pedir um terço".
Dito popular

"Certos políticos brasileiros confundem a vida pública com a privada".
Aparício Torelli, o "Barão de Itararé

"Meu patrão é o Brasil". Eriberto Batista -
Ex-motorista do Palácio do Planalto (Que foi peça-chave na denúncia de corrupção no caso Collor / PC)

"Pessoas oprimidas não podem permanecer oprimidas para sempre".
Martin Luther King - Líder negro americano assassinado

Então, não dá o que pensar??
Para ver mais:
www.geocities.com/Paris/Opera/4700/

Saturday, January 13, 2007

O PREÇO DA ASTÚCIA por: Cristovam Buarque

Sou fã do Professor Cristovam Buarque já a algum tempo. Suas idéias são muito interessantes, principalmente sobre educação. É uma pena que nosso país o tenha preterido nas urnas, assim como o atual governo o demitiu da função de Ministro da Educação por telefone. Ambas vezes por razões ditas politicas, mas que na verdade não passam de politiquice-partidária, apequenadas.
Creio que descontada uma certa dose habitual de ingenuidade, quase-inocencia caracteristica dos intelectuais nordestinos, o texto abaixo é um primor de realismo. Consegue rastrear a histórica desfaçatez com que sempre agiu a elite que administrou nosso país desde sempre.

Boa leitura:


Depois de declarada a Independência, os dirigentes do Império decidiram educar os filhos da pequena aristocracia livre, excluindo os escravos. O número de escolas públicas de qualidade aumentou com a República, mas as massas continuaram sem acesso à educação.
Quando o desenvolvimento e a urbanização começaram a pressionar pela educação das multidões dos centros urbanos, os astutos dirigentes abriram escolas públicas municipais, sem recursos nem qualidade, e transferiram seus filhos para escolas privadas de qualidade, cuidando de financiá-las em parte com dinheiro federal, por meio de renúncia fiscal.
Hoje, o topo da pirâmide social gasta R$ 58 bilhões com a educação privada de seus 7 milhões de filhos, e recebe de volta R$ 1,1 bilhão, como restituição do Imposto de Renda. Enquanto isso, os 48 milhões de alunos do ensino básico público recebem R$ 34 bilhões, dos quais apenas R$ 4 bilhões são recursos federais. Graças à astúcia da aristocracia republicana, a União gasta anualmente R$ 250 por aluno do topo da pirâmide social, e R$ 92 por aluno da base.
Os dirigentes abandonaram o ensino básico aos municípios e estados, mas mantiveram o financiamento da União para as universidades. A astúcia do topo inventou um mecanismo de seleção dos melhores entre os seus filhos para restringir o acesso à educação superior gratuita e de qualidade, graças à educação básica de qualidade que eles recebem. Algo como uma astuciosa cota de exclusão para os filhos dos pobres. Tendo recebido uma educação fundamental de péssima qualidade, paga pelos municípios, os filhos da base abandonam o ensino médio, ou não disputam o vestibular em igualdade de condições com os filhos do topo, que receberam boa educação. E a União paga por ano quase R$ 10 mil para cada filho do topo na universidade federal. Nossa democracia republicana não ameaça privilégios aristocráticos.
Quando percebe o aumento da demanda por acesso à educação superior, o topo novamente mostra sua astúcia: em vez de aumentar o número de vagas nas universidades estatais, libera a criação de faculdades particulares, mantendo as universidades federais, gratuitas e com qualidade, para seus filhos. A juventude abaixo do topo vê novos horizontes, mas em cursos sem qualidade, e à custa de imensos sacrifícios, às vezes da falência financeira de suas famílias.
Quando essa falência começa a gerar insatisfação, astuciosamente o topo decide isentar de impostos as universidades particulares que ofereçam bolsas de estudo. Retiram mais R$ 57 milhões da União para o PROUNI financiar parte do custo de 112 mil vagas em faculdades particulares, mas não ampliam os gastos com os 48 milhões de alunos do ensino básico.
Mas toda astúcia tem um preço. O Brasil percebe o alto custo do abandono da educação básica. Porém, em vez de trocar a astúcia pela solução, o topo apresenta o FUNDEB - um investimento adicional, por parte da União, de R$ 1,9 bilhão para a educação básica em 2006, e que pretende chegar a R$ 4,3 bilhões em 4 anos - e o anuncia como um grande feito. É a astúcia do FUNDEB do governo do PT, que se diferencia da astúcia do FUNDEF do governo do PSDB por míseros R$ 37 a mais por aluno, por ano. Mas não promove uma ação direta da União na educação básica de todas as crianças.
O pior da astúcia é que ela amarra o topo no seu egoísmo, e engana a base na sua ilusão. Amarra até os que conseguem identificá-la, mas que terminam por defendê-la, como sendo um mal menor. Porque parece melhor a astúcia que engana do que as promessas que parecem nunca se realizar.
Entretanto, não seria difícil trocar a astúcia por um investimento aliado a uma Lei de Responsabilidade Educacional, que permitisse, em poucos anos, garantir a todas as crianças escolas bem equipadas, com horário integral, professores bem formados e bem remunerados, dirigentes com responsabilidade, e um topo da pirâmide com patriotismo e inteligência, no lugar da burra astúcia republicana.
O preço da astúcia é muito maior do que o custo da solução.

Cristovam Buarque é Professor da Universidade de Brasília e Senador pelo PDT/DF

Episódio 2: A briga no coreto (Lição Empatada?)

Parece que todo moleque em idade escolar tem que ter enfrentado alguma briga. Um duelo, seja no recreio, na rua, na saída, enfim, algo que seja digno de registro, e que alimente o ego masculino. Melhor ainda se puder alegar que foi por alguma causa nobre, um motivo justo. Caso não seja assim, que seja como for. Geralmente não há do que se arrepender, pois sempre se aprende algo com estas escaramuças infantis. Mesmo que seja aprender que não devia ter brigado.....
Comigo não foi diferente, mas bem que eu tentei. Nunca gostei de enfrentações, evitava como podia os conflitos, até mesmo sacrificando o convívio com alguns dos colegas. Mas não é que um belo dia (noite, na verdade) eu estava de briga marcada com um menino mais velho, mais forte e nem sabia direito o porque. Até acho que nem ele sabia. Menos mal que ele fosse da “turma do bem”, não era daquele grupo dos mandões da escola, que se impõe a tudo e todos. Mas que intriga podem ter achado para me envolver numa briga com o Carminho (estou em duvida com o nome)? Ele ajudava alguém da sua família que tocava o cinema da cidade (Cine Brasília), e a briga estava marcada para perto do coreto do jardim de cima (o coreto novo, onde nós jogávamos bolinha de gude, não o antigo do jardim de baixo e cheio de balaústres e ornatos de cimento) para logo após a entrada do filme daquela determinada e fatídica noite.
Enquanto eu tentava racionalizar, sonhando com uma saída sem socos, eis que recebo o primeiro, na cara. E, lá fomos para o chão, rolando e se socando. Foi tudo muito rápido. Da mesma maneira que não sei até hoje o motivo da briga, não sei também porque parou tão rapidamente. Entraram os da turma do deixa-disso e nos separaram. A platéia era formada por alguns meninos da minha classe e da dele. Se divertiram com a armação toda, embora sem maiores conseqüências, até porque ocorreu fora da escola e do alcance de qualquer adulto. Da mesma maneira que nunca tivemos tantos contato antes, continuamos sem nos falar muito e nunca esclarecemos nada. Mas a irmã dele continuou minha amiga, a Carmem, pois éramos da mesma classe desde o jardim.
Não que esta briga possa ter acrescentado qualquer coisa de bom em meu caráter, longe disto aliás. Mas constará sempre do meu currículo interior, aquele que realmente conta. De alguma maneira entrou para o folclore das coisas bobas da minha infância.

Episódio 1: A Filha do Lixeiro (Lições Perdidas.)

Episódio 1: A filha do Lixeiro (Lições Perdidas.)
Até o final dos meus três primeiros anos escolar, 1964/65/66 eu estava acostumado a ser o primeiro, ou segundo da classe. Minhas notas eram excelentes. Minhas médias eram bem superiores ás dos colegas de classe, amigos da família ou não, quem mais se aproximava eram algumas das meninas. Em uma cidade pequena como a nossa, estar numa sala de aula, em um determinado ano escolar, significa estar presente onde estão TODOS os moradores da cidade com aquela determinada idade. Afinal era a única escola local. Freqüentada pela elite e também pelos humildes da cidade. Desfrutavamos em geral de um bom ambiente entre nós, crianças da escola, de modo que a condição social-financeira de cada familia não constituia qualquer constrangimento. Era uma mistura saudavel, e, nós, a maioria, pobres, conviviamos bem com os de condição mais abastada.
Mas tem um fato curioso, que me vem à memória, passados tantos anos. E me obriga a relfetir um pouco sobre as molequices daqueles tempos.
Mas não é que, no quarto e ultimo ano, voltando a ser classe mista, meninas e meninos juntos, surge alguém que começa a se destacar mais que eu. Ângela (ou Rosangela), a filha do Lixeiro da cidade. No final do ano, ela se formou em primeiro lugar, á minha frente. Acabei sendo o “orador da turma” como consolação, acho. Orador é meio forçar a expressão, pois o que me limitei a fazer foi uma leitura das duas páginas me entregues pela D. Hélide (uma daquelas professoras de nossa infancia, cuja aura de santa o tempo não consegue desfazer). Felizmente, nunca me aborreci com isto, nem senti alguma raiva ou decepção por ter alguém com notas bem melhores que as minhas. Mas que foi uma situação nova, isto foi. E também uma surpresa interessante.
E agora vem o ponto falho: apesar da pouca idade, da inocência, creio que éramos um tanto preconceituosos, pois nos referíamos a ela como a Filha do Lixeiro.
Pura maldade, olhando-se hoje do ponto de vista politicamente correto. Mas não estávamos, na época, sob este patrulhamento.
É possivel que estivessemos dando vazão a um instinto até natural para nossa pouca idade e a muita ignorância da época, mas certamente desconheciamos o risco de, criar em nós as bases para futuros preconceitos. Se é que não criou . . . .
E, infelizmente, por nós mesmos, não fomos capazes de discernir o que havia de errado em nossa atitude. De qualquer forma, creio, que faltou algum adulto que soubesse olhar de frente o problema e nos dar uma boa esfrega.
Em momento algum sequer nos demos conta do respeito que devemos ter por todas os seres humanos, independentemente de ser o Professor, o Cartorário, o Soldado, ou o Lixeiro, ou o Pedreiro (como era meu pai).
E o mais interessante, é que ainda hoje, tantos anos passados, me vem á memória a figura distinta, ereta, ainda que coxeando de uma das pernas, do pai dela.
Me passava uma impressão de dignidade. Eu o via diariamente pelas ruas da cidade, (a maioria ainda não asfaltadas) sempre conduzindo a sua carroça do chão. Varrendo, coletando numa velha lata e enchendo a carroça. Sempre com o mesmo ar de dignidade e com toda a elegancia possivel. Acho que nunca ouvi sua voz, ao menos, não me lembro, nem sequer para conduzir o animal, como se costumava fazer naqueles tempos, aos berros.
Ele seria "apenas" mais um operário da época, assim como meu pai, com a dignidade que o trabalho árduo costuma incorporar à sua massa de magreza.
Mas um lado positivo, posso perceber ainda hoje: o bom exemplo de trabalho árduo, visando além da própria subsistência, tambem uma busca pelo bem da coletividade. Ficou em mim este registro posivitivo.
Mas quem sabe, acaso não fosse a insensibilidade coletiva, (juvenil ou não) poderia hoje estar registrando uma memória mais humana, menos moleque.

1965 GRUPO ESCOLAR PROFESSOR PAULISTA


“Enquanto o Diabo coçava um olho, Santa Teresinha com uma mão só, dava um nó na linha de costura, e, vapt!, estava pronta mais uma peça de roupa”
Para nós, os meninos de oito ou nove anos do segundo ano, (ou seria na classe do catecismo, afinal era a mesma professora) ficava claro que seria para os pobres as tais peças de roupa. E como não ter empatia pelo ditos pobres da historinha, afinal quem entenderia mais de pobreza que nós, pobres diabos, desvalidos de bens materiais? Esta historieta contada pela minha professora do segundo, ou terceiro ano primário, nos longínquos 1965/1966, no Grupo Escola Professor Paulista ainda está muito viva em minha memória. Talvez porque Terezinha era também o nome da Professora. E também porque seus olhos escuros brilhavam tanto, enquanto contava, que nos inflamava contra a maldade das coisas ruins deste mundo! Talvez pela euforia provocada pela mensagem, pois, afinal como uma simples Freira costureira, realizava a proeza de superar o Maldoso? Um enigma que nos deixava boquiabertos, alguns mais que a outros, é claro, afinal muitos deviam ser espertos para a idade. Mas a pureza da mensagem se apegava à pureza das crianças. Esta classe do primário, só de meninos é uma das boas lembranças de minha infância. A vida adulta, tão cheia de fatos, repleta de atos não costuma deixar muito tempo para a memória. A julgar pela opinião da Carla, até pode parecer que nem tive infância, pois quase não a cito. Na verdade, até espero, por vezes, poder contar com o beneplácito do esquecimento (para as besteiras que cometi). E acho que comecei cedo, (a cometer besteira).
O ano era 1968, emblemático para muitos, mas para mim, marcou a passagem prematura, de uma vida domestica, sob o controle da mãe, para uma liberdade nem sempre bem administrada. O mundo fervilhava no campo ideológico, no político, tanto no exterior quanto aqui no Brasil, onde os militares pondo as suas desastradas asas sobre a sociedade, promulgavam A.I.’s e abusavam de nós. Eu nem tinha consciência de nada disto, (que falta faz a impressa livre, TV e Internet), mas ainda guardo a carteirinha do Grêmio Estudantil, e até poucos anos atrás ainda tinha a lista de candidatos, onde apareço como membro da chapa eleita nem sei por que cargas d‘água!!!
Acho que desde então, virei adulto, meio antes da hora! Uma pena, mas virei. Irreversível.
E desde então, as memórias da infância ficaram meio de lado. Mas que existem, existem. Seria uma boa hora para elas voltarem.
Talvez ao me recordar de coisas boas, possa encontrar junto, um pouco de bondade, virtude, pureza, e outros ingredientes do ambiente daquela época. Creio que vou me recordar também de algumas coisas, que, se não podem ser classificadas como tão boas, ao menos, tem seu lugar no curso de minha vida e serviram como lições de vida. Que afinal, pelas ingenuidades que continuo cometendo mesmo depois de adulto, acho que não foram suficientes.
Naquela época, eu estava descobrindo a vida. Literalmente. E, creio que foi através das pessoas, do panorama humano que me cercava, que eu devo ter tirado minhas primeiras lições de vida. Afinal, sem a dona TV para ditar comportamento, tínhamos que colher do ambiente quase tudo que necessitávamos para um caráter em formação!!
Este período de minha vida, tão precioso, poderia render muita história. Pretendo postar alguns casos curiosos, que, apesar do restrito interesse pessoal, talvez venha a ter algum interesse no futuro para os de minha familia.

Thursday, January 04, 2007

ÔNIBUS ESPACIAL - 35 SAMAHENTOS

ONIBUS ESPACIAL – FAMIGLIA SAMAHA
Esta história começa com a decolagem de um pequeno avião teco-teco no dia 06 de setembro de 1959, de dentro de um Igreja Católica em Araraquara.
Sim, o casamento de Jalal Samaha com Maria Aparecida Ferrarezi será aqui comparado a um belo voo. Inicialmente ao voo de um pequeno avião monomotor, que servia bem aos propósitos de ambos, ou seja, passear com a pequena e nova família, voando pelas montanhas do interior, por Poços de Caldas, a baixa altitude e sem muita pressa!!
Mas quis o Senhor que este voo tivesse outros rumos, e, em meados de 1962, ao serem batizados na Igreja, foi como que se o pequeno avião, de alcance efêmero, precisasse ser trocado por outra aeronave de maior alcance. Para atingir as altitudes agora vislumbradas, foi como se o Senhor os colocasse na cabine de um ONIBUS ESPACIAL, e com muitos lugares.........
Logo os acentos vazio foram sendo ocupados por novo membros da Família, numa sucessão ainda não encerrada!!!
Então, até o fim da década de 60, se juntaram aos pais e a irmã mais velha, Carla, que havia viajado no teco-teco, pela ordem, todos os filhos do casal, na seguinte ordem das poltronas:
Poltrona 1: Jalal
Poltrona 2: Maria
Poltrona 3: Carla em 13 de Julho de 1960;
Poltrona 4: Valquíria em Novembro de 1961;
Poltrona 5: Érica em Julho de 1965;
Poltrona 6: Eric em Julho de 1967;
Poltrona 7: Priscila em Novembro de 1968;
Poltrona 8: Andréia em Maio de 1970.
Com todas as novidades que vem com a chegadas de filhos, a vida foi sendo tocada, e em 1975 o casal passa pelo Templo de Provo, onde recebem suas investiduras, e então é como se o Senhor os tornassem PILOTOS CELESTIAIS, pois é este o destino do seu ONIBUS-FAMÍLIA.... e para isto novamente um passagem por uma estação-templo, desta vez no Brasil, em São Paulo, em 1978 e todos os filhos são selados para a eternidade, e haja combustível para manter esta nave na rota certa...... E lá vem a década de 80, quando mais 10 passageiros (ou tripulantes) entram e tomam assento no ônibus, pela ordem:
Poltrona 9: Donato em Junho de 81;
Poltrona 10: Dalton em Março de 82;
Poltrona 11: David em Maio de 82;
Poltrona 12: Danilo em Janeiro de 83;
Poltrona 13: Alessandro em Maio de 84;
Poltrona 14: Mariana em Setembro de 84;
Poltrona 15: Tatiana em Janeiro de 86;
Poltrona 16: Carolina em Abril de 87;
Poltrona 17: Michele em Fevereiro de 89;
Poltrona 18: Priscila em Setembro de 89;
E o ônibus, que na década de 50, tinha apenas o casal e a filha mais velha, chegara a década de 70 com 8 pessoas, e chegava agora à década de 90 com 18, mais que o dobro de 10 anos antes. O que esperar das futuras décadas? Vejamos:
Poltrona 19: Nelson em 92
Poltrona 20: Sílvio em 92;
Poltrona 21: Rodrigo em Janeiro de 93;
Poltrona 22: Rafael em Junho de 93;
Poltrona 23: Cláudia em 93;
Poltrona 24: Giovana em Dezembro de 93;
Poltrona 25: Adriano em Maio de 94;
Poltrona 26: Leandro em Agosto de 94;
Poltrona 27: Amanda em Março de 95;
Poltrona 28: Isabelle em Maio de 96;
Poltrona 29: Vanessa em Junho de 96;
Poltrona 30: Junior em Maio de 97;
Poltrona 31: Fabinho em Janeiro de 2000;
A década de 90 foi a mais produtiva da família, pois agregou 13 pessoas ao nosso Ônibus.
Então chega a década de 00, e continua o crescimento da população.......
Poltrona 32: Graziela em Março de 2001;
Poltrona 33: Mateus em Julho de 2001;
Poltrona 34: Sabrina em Agosto de 2005;
Poltrona 35: Pedrinho em Novembro de 2005
Poltrona 36: ISABEL em Fevereiro de 07;
Poltrona 37: Patricia Cristine, em Abril de 07;
Poltrona 38: Felipe do Danilo no fim de 2007;
Poltrona 39: Bia do Alessandro inicio de 2008;
Poltrona 40: reservada por Plin-Plinio em 13 de Setembro próximo;
Poltrona 41: reservada por Vitinho Ugo em 2009 (?) será mesmo ?
Poltrona 42: reservada para futuros filhotes destes maravilhosos casais jovens . . . .

ops!!!!! Apertem os Cintos!!! O Piloto avisa: pequena avaria na fuselagem da nave, a poltrona 37 se ejetou!!!!
Nossa amada NAVE-FAMILIA, que até então não tinha feito nenhum pouso forçado numa ESTAÇÃO-CEMITÉRIO, se vê perdendo seu primeiro tripulante . . . .Por ora, chega!!! Janeiro de 2011 está quase aí, inicia-se a nova década e nem consigo imaginar quantos tripulantes chegarão........

CASOS PARA PENSAR 3) DANIEL

3) O JOVEM ADVENTISTA : Agora um caso incrível, difícil de analisar. Na última empresa onde trabalhei tínhamos uma dificuldade especial em contratar bons profissionais, em parte devido a falta de mão de obra capacitada em Ibitinga, em parte devido a própria administração da empresa, que não valoriza nem investe no elemento humano.
Estávamos com uma vaga na sessão de Peças em aberto já havia algum tempo. E, finalmente surgiu um bom candidato. Capacitado, com experiência no ramo, enfim um currículo excelente. Vamos chamá-lo de Daniel (não me lembro mais seu nome).
Veio a entrevista, e a confirmação: pessoalmente ele realmente tinha todas as condições de ser a solução para aquela função vital.
Na verdade, além da capacitação profissional, Daniel aparentava ter uma personalidade muito interessante, solícito, interessado, atualizado, bem apresentável, comunicativo, e principalmente transmitia um ar de sinceridade, com um olhar bem transparente, seguro de si, característica de pessoas honestas.
Estávamos trabalhando para reorganizar o Depto. devido a desvios e roubos, alguns pequenos, outros maiores, daí a importância de contratar alguém honesto, de bons princípios.
Mas não tardou para eu descobrir, ao término da primeira conversa, e também nas próximas entrevistas que enfrentaríamos uma certa barreira com o Daniel.
Verifiquei que uma boa parcela daquelas suas virtudes deveria ser decorrente de sua fé religiosa. Ele era membro praticante da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
E, como tal, guardava fielmente o sábado como dia consagrado ao Senhor e à suas atividades religiosas.
E foi este o ponto de discórdia: nós eventualmente iríamos precisar que ele trabalhasse em regime de plantão alguns sábados. E, como Adventista fiel, ele não concordava em trabalhar aos sábados. Mesmo argumentando que seria muito esporádico, talvez uns 5 ou 6 sábados por ano, ele não aceitou.
Contra-argumentou muito, tentando mostrar que poderia fazer muito bem feito seu trabalho nos demais dias da semana, que poderia trocar com colegas da sessão os possíveis sábados, etc..
Mesmo sabendo que ele realmente conseguiria fazer um trabalho melhor que os demais colegas, não me parecia justo deixá-lo isento do rodízio que fazíamos para o plantão dos sábados.
Certamente até os colegas aceitariam, se eu pedisse, que algum o substituísse aos sábados. Mas eu não podia abrir exceções.
De meu lado, tentando investigar mais a fundo o seu entendimento das escrituras, e também para checar os limites de sua fé em Deus, na sua Igreja, busquei explorar o tema em todos os aspectos possíveis.
E, o que emergiu desta exaustiva batalha? O lado radical do Daniel.
Ele preferiu perder a oportunidade, numa cidade onde empregos deste nível são raríssimos, para não quebrar um convenio, que segundo ele, não era com a Igreja, mas sim com o Senhor.
É claro que fiquei bem impressionado com ele, e até o elogiei por sua fidelidade.
Mas em alguns momentos da conversa, sabendo que ele estava seguindo uma Igreja não verdadeira, sabendo que o Dia do Senhor foi mudado por Deus, do Sétimo para o Primeiro dia da Semana, sabendo que ele estava sendo induzido a erro, e que ele era uma pessoa de boa fé, senti algumas vezes o impulso de tentar demovê-lo de sua crença.
Porém, em todas nossas conversas, senti que não era certo forçar nada. Em primeiro lugar não sentia que era direito transformar uma entrevista de emprego em debate de religião.
Mas o que mais me tocou, foi sentir que o Senhor estava no controle daquela situação. Senti que o Senhor estava satisfeito com a fidelidade daquele jovem. Mesmo não estando na sua Igreja Verdadeira, ele demonstrava uma força de caráter admirável em obedecer aos mandamentos, da maneira como lhe fora ensinado. Ainda que, errônea. Sabemos que o Senhor tem pessoas boas em todas as religiões, e vi que estas passam por experiências importantes para sua preparação, para uma dia, quando estiverem prontas, possam receber o verdadeiro Evangelho através dos Missionários.
Aprendi a continuar dando valor a experiências de vida e praticas religiosas de quem quer que seja.
Acho que afinal o Daniel nem perdeu muito, pois eu mesmo saí da empresa pouco tempo depois.

CASOS PARA PENSAR 2) RICARDO

2) RICARDO xxxxxx: Depois de mais de 20 anos de experiência como Gerente em empresas, demitir o Ricardo foi uma das manobras mais complicadas que tive que fazer ultimamente. Ele é um converso da Igreja Batista. Tem todas as características típicas de sua religiosidade, embora ainda sem o antagonismo aos mórmons característico aos Batistas. Até porque na cidade de Ibitinga, onde mora e onde eu trabalhei na época, não existe ainda uma unidade de nossa Igreja organizada, nem mormons praticantes. Mas ele apresenta alguns aspectos de fé um tanto infantil, ou puro demais, que o pode tornar presa fácil das armadilhas do mundo, pois espera ser tratado com a mesma benevolência (pelo mundo) com que é tratado na Igreja, no seio do rebanho de Deus. Como sabemos todas as Igrejas tem partes da verdade, e não é diferente com a Batista, e certamente ao adotar tais princípios verdadeiros, misturados com outros não verdadeiros, ele só consegue enxergar uma parte do plano de Deus. E, daí vem confusão. Também apresenta muitos traços de excesso de auto-confiança (que é um bem, quando na medida certa) talvez até um certo ar de superioridade, influenciado pela convicção da salvação pregada em sua Igreja. E isto tem sido prejudicial a seu desempenho profissional. Parecia que ele esperava por algum milagre religioso para que suas metas fossem atingidas. Embora conseguindo apenas resultados ruins, mesmo assim sentia-se bem, ou passava a impressão de sentir-se bem com resultados medíocres. Num determinado momento, eu o avisei que o demitiria, não por falta de resultados, mas antes por sua falta de empenho.
Mas nem isto mexeu com ele. Dei-lhe um Livro de Mórmon de presente, como havia lhe prometido, tive uma convivência pessoal agradável nos 2 meses e pouco em que trabalhou comigo. Continuamos amigos, a dispensa foi humildemente aceita por ele. Meus argumentos foram tão profissionais quanto é possível ser numa situação desta. Não achei certo declarar a ele que sua atitude religiosa estava atrapalhando seu desempenho profissional. Pois achei que além de não ser bem entendido por ele, não seria um argumento aceito como válido perante os diretores da empresa, pois sequer era a verdadeira razão. Apenas disse que o Ricardo não estava se adaptando ao nosso mercado e não se empenhava o suficiente para mudar este panorama. Não achei necessário discutir com ninguém o mérito do tema central: a passividade dele em aceitar tudo com uma resignação espantosa. Ele possui todos os predicados necessários a um bom vendedor: era apaixonado por carros (nosso produto); tem um QI bem acima da média; é simpático; jovem; bonitão; sabe conversar; saiu-se muito bem nos treinamentos da empresa; tinha um currículo recheado de sucessos em vendas em outras empresas.
A conclusão óbvia: não se adaptou nem se empenhou. Infelizmente a empresa não tem tempo para investir em casos deste tipo. E ele reagiu de modo muito civilizado e concordou com a decisão de maneira bem profissional.
Mas ficou um vazio na comunicação. Não consegui achar o gancho para tocar no aspecto religião. Ficou claro para mim que a atitude dele poderia ser muito mais positiva não fosse a influencia religiosa. Não será o primeiro nem o último a perder oportunidades devido convivções religiosas, embora no presente caso, simplesmente seja por falta de visão.

CASOS PARA PENSAR 1) PETER

ALGUNS CASOS PARA PENSAR:
1) PETER: Uma das minhas mais gratas lembranças da missão é da designação para fazer parte do grupo de 6 Élderes enviados pelo Presidente Helio da Rocha Camargo, em meados de 1978 para reabrir a cidade de Campos, norte Fluminense. (Hoje Campos dos Goytacazes). Pelos registros da Missão, haveriam na cidade pelo menos 3 famílias em condições de freqüentar a Igreja, 2 delas remanescentes do primeiro período dos anos 60, quando a Igreja estivera aberta, por um breve período. Fomos em 3 duplas e tocou a mim e meu companheiro (Elder Osmar Coelho) ficar com a família do Irmão Vanderlan de Araújo, constando de sua esposa, a Irmã Elba, seus filhos Peter e Vandinho. Peter era ainda pequeno, e Vandinho nem nascido, quando seus pais se filiaram a Igreja nos anos 60, portanto não eram ainda batizados, tornando-os assim os primeiros candidatos à pia batismal.
Nós ensinamos outras pessoas, indicadas pela família Araújo, e as batizamos. Ensinamos aos meninos e outros familiares, mas somente o mais novo Vandinho aceitou o Batismo. Eu me afeiçoei muito a ambos, principalmente ao Peter, era como se fosse meu irmão mais novo. E eu tinha deixado irmãos menores como ele em casa. O Peter demonstrava uma opinião muito forte. E não aceitava a Igreja.
Mas tínhamos muito em comum, apesar da diferença religiosa. Eu gostava muito dele, ele demonstrava uma personalidade muito correta. Era aparentemente tudo que uma família pode esperar de um filho: disciplinado, respeitador, estudioso, inteligente e também passava uma certa tendência religiosa.
No meu ultimo dia em Campos, após uns 5 meses de convivência com eles, ao me despedir na rodoviária estávamos tristes, eu e o Peter. Na despedida, deixei-o por último e disse a ele que o amava como a um verdadeiro irmão, independente dele se batizar na Igreja ou não. Ainda me lembro da expressão de satisfação dele por ser aceito como ele era. Mas ainda no ônibus me arrependi um pouco da maneira como dissera isto ao Peter. Estava deixando uma janela enorme para ele se sentir bem, sem o compromisso da Igreja. E senti um receio de que ele jamais viesse a se batizar, pois foi esta a sensação que tive na hora. Pelo que soube nos anos seguintes ele nunca se batizou, para desgosto de seus pais, membros firmes. Até hoje, passados tantos anos, ainda nada sei sobre ele, e quase nada sobre seus pais.
É uma sombra de duvida que levarei para sempre comigo. Mas maior é minha convicção sobre a liberdade da alma humana. E do valor individual do Peter. Acho que o encontrarei ainda. Não sei em que condição estaremos ambos. Mas o sentimento em meu coração ainda é bom e consolador em relação a ele e ao seu futuro. E sei que no plano de salvação há um lugar reservado para ele. Só que espero tenha permanecido dono do mesmo caráter justo e bom.

EXPERIENCIAS COM OUTRAS RELIGIÕES

Sempre fico maravilhado quando penso no Plano de Salvação, em sua abrangência, nos pequenos detalhes pensados por Nosso Pai Celestial para acudir com misericórdia a todos os seus filhos nesta terra, e ainda assim satisfazer as exigências da justiça. Era importante estabelecer um meio pelo qual se evitasse a entrada no gozo da vida eterna de alguém não digno, despreparado para tal qualidade de vida, e para o nível de poder que teria acesso neste grau. A perfeição deste plano só poderia vir de Deus.
Desta maneira, sempre atentei para evitar cometer o erro do “exclusivismo”. Acho tolice alguém pensar que, por ser membro desta Igreja, seja melhor que qualquer outro homem que já viveu nesta Terra. Gosto de pensar também que não devo ser pior que qualquer outro. Sei do risco que correria, se cedesse a sentimentos deste tipo, pensando ser melhor que os demais que não são do convenio. Me parece, que sempre que houve um povo do convênio, logo surgia a tendência de se isolar totalmente, passando um certo ar de superioridade aos vizinhos. Na verdade com isto se perde a oportunidade de estar no mundo sem ser mundo, fator necessário para a obra missionária. Muitas das perseguições sofridas pelos pioneiros mórmons foram decorrentes do receio que outros grupos sentiram pela presença maciça dos santos, e sua influencia nos negócios da região, principalmente influência política. Hoje em dia, apesar de uma nova atmosfera em termos de tolerância religiosa, ainda assim, não podemos nos enganar, a aceitação que nossa geração goza perante o mundo religioso é mais aparente do que real. É mais regida pela prática do “politicamente correto” do que por honestos e bons sentimentos cristãos. A aceitação que gozamos perante o mundo acadêmico (idem no das artes) também tem algo de inconsistente. Alguns parecem querer o que tivermos de bom e útil à lhes oferecer, mas não fazem o mesmo esforço para nos acolher ou incluir quando seja o caso.
Já no mundo dos negócios, seja em grandes corporações ou não, a Igreja e seus membros têm desfrutado de um ótimo conceito. Mas isto se deve ao seu próprio desempenho, e não pela mera tolerância dos demais.
Portanto, ao olharmos por este prisma, não causa espanto ver como a Igreja tem o respeito de lideres moderados do mundo mulçumano. Eles encontram nos mórmons interlocutores à altura de seus elevados conceitos de família, moralidade, princípios de saúde e tantos outros pontos em comum. Alguns destes pontos, que nos aproximam de povos tão distantes são os mesmos que nos afastam de nossos próprios familiares não membros. Sempre me interessei por temas ligados ao relacionamento de nossa Igreja com as demais religiões, principalmente com as grandes religiões do oriente, milenares. O Cristianismo, por séculos sem revelação divina, se nivelou às outras religiões, e assim sendo, mais errou que acertou quanto as suas responsabilidades de representar o Senhor perante o mundo dito não cristão.
Acho também que não podemos julgar a reação de outras religiões à nós, sem pelo menos tentar entender o contexto geral de sua cultura, seus valores e seus costumes.
Fui agraciado pela vida e creio que cresci muito no contato com pessoas de outras religiões, e pude aprender um pouco com cada uma delas.
Nos próximos posts, colocarei 3 casos interessantes.

Wednesday, January 03, 2007

TIO CARLITO

O Enterro do Tio Carlito
09 de janeiro de 2006, completo hoje 49 anos e estou voltando de Dourado onde fui com o meu irmão Carlos para o enterro do Tio Carlito (Pascoal Roque Donato). Ele faleceu ontem, dia 08 de janeiro, num leito do Hospital de Dourado. Nós o visitamos um dia antes do falecimento, assim que soubemos que ele estava internado. Nesta visita, dia 07 de janeiro, tive uma impressão de morte ao vê-lo tão sofrido e acabado naquele hospital. Ele estava hospitalizado havia uns 17 dias, apenas 3 dias após nossa providencial (para nós, principalmente) visita de fim de ano. O Mário, o Antonio e eu fomos porque ouvimos dizer que ele não estava muito bem de saúde, que tinha se submetido a exames médicos em S. Carlos. Embora não ignorássemos seus 72 anos, completos em 03 de abril de 2005, jamais pensamos nele como alguém doente. Possivelmente por causa da sua forma alegre e feliz de viver.
Foi um banho de emoção todos estes últimos contatos com o Tio Carlito. Ele conservava a mesma pureza de um menino. Infelizmente não conseguiu nos dizer nada na visita no hospital no sábado. Demonstrou que nos reconhecia, (foi o Carlão comigo além do Toninho, o Mário desta vez não foi, está em viagem de férias) mas não conseguiu dizer nada. Apenas expressões de dor. Mas a visita de meados de dezembro foi memorável. Ele estava dormindo em seu quartinho no Asilo, com porta e janela abertas, batemos, e ele mal abriu os olhos claros, e disse com aquela sua pronuncia meio que gaguejando: "Os filhos do Zuza!!". Foi uma alegria o re-encontro. Não o víamos ha anos. Nos atualizamos sobre sua situação, embora na aparência nada indicava que houvesse algo de grave. Saímos pela cidade para tentar comprar uvas, que era o que ele disse sentir falta.
Na semana seguinte, com a consciência amortecida pela visita da tarde de sábado, fui para Curitiba onde passamos quase 2 semanas com os familiares de minha esposa. Nem imaginava que ele já estava internado desde a terça-feira daquela mesma semana. Talvez nem ele mesmo suspeitava que ele jamais retornaria para sua rotina, para os amigos do asilo, para a Banda 1º. de Maio, ou Banda do Tanaka, para os parentes, seus primos de Dourado.
Após a visita no hospital sábado, voltei para casa, após vê-lo tão debilitado no hospital com a certeza de que ele teria poucos dias de sobre-vida. Sua experiência com seu tabernáculo terreno estava muito próxima do fim. Seu aspecto não lembrava mais a pessoa feliz, alegre que tivemos o privilégio de conhecer, e, felizmente, de rever poucas semanas antes. Mas não imaginava que seria assim tão rápido como foi. Menos de 1 dia inteiro após nossa visita do sábado, e chega a notícia de seu falecimento. Sem dúvida um alívio para aquele corpo sofrido.
Voltei no domingo á tarde a tempo de acompanhar o início do velório. Pudemos saber um pouco mais dele através dos amigos e parentes ali presentes. Todos se orgulhavam da convivência com o Pascoal, (só para a família ele era o Carlito), ele era um figura meio folclórica da cidadezinha de Dourado. Pelo que pude saber, parece que ele tomava dezenas de cafezinhos por dia, pois era o entregador de jornal da cidade, e sempre entrava nas casas dos clientes/amigos e não saía sem fazer uma boquinha. Alguns dos presentes também relataram com ternura o cartão de Natal que costumava ser entregue pessoalmente nas casas dos agraciados.
Já hoje no enterro soube que, embora não tivesse um plano de assistência funerária próprio (nem do Asilo), ele tinha recursos em conta suficientes para as despesas de seu próprio enterro. Foi bom saber que ele teve como se manter auto-suficiente dentro do possível. Foi o próprio Presidente do Asilo, o abnegado Dr. Gastão quem confirmou. São pessoas boas e honestas pelo que vi, pois eram eles que administravam a pensão do INSS da qual ele vivia.
Não pude conter as lágrimas, quando o enterro fazia o curto percurso do velório ao cemitério municipal, e, quebrando o silêncio mortal, a Banda do Tanaka, meio escondida entre arvores do estacionamento começa a tocar, numa ultima e sincera homenagem ao amigo de todos que se ia.
Foi uma despedida a altura do ser bondoso que ele é.
É interessante pensar que, apesar de viver sozinho, ele nunca foi uma pessoa só. No velório, vi lágrimas de emoção em homens maduros, que lamentavam a perda do companheiro. Ele viveu uma vida leve. Principalmente nos últimos 35 anos, quando voltou a morar em Dourado. Devagar foi se inserindo na vida pacata das pessoas. Quem lhe dedicava um pouquinho de atenção, era recompensado fartamente. Sobravam motivos para que ele fosse tão querido, não representava peso para ninguém, estava invariavelmente de bom humor. Me lembro da alegria genuína quando o levei nos anos 80 para assistir um jogo do seu Palmeiras na Fonte Luminosa.
O sentimento que ficou, a visão que vai perdurar é a da serenidade do Tio Carlito neste dia.