Thursday, January 04, 2007

CASOS PARA PENSAR 2) RICARDO

2) RICARDO xxxxxx: Depois de mais de 20 anos de experiência como Gerente em empresas, demitir o Ricardo foi uma das manobras mais complicadas que tive que fazer ultimamente. Ele é um converso da Igreja Batista. Tem todas as características típicas de sua religiosidade, embora ainda sem o antagonismo aos mórmons característico aos Batistas. Até porque na cidade de Ibitinga, onde mora e onde eu trabalhei na época, não existe ainda uma unidade de nossa Igreja organizada, nem mormons praticantes. Mas ele apresenta alguns aspectos de fé um tanto infantil, ou puro demais, que o pode tornar presa fácil das armadilhas do mundo, pois espera ser tratado com a mesma benevolência (pelo mundo) com que é tratado na Igreja, no seio do rebanho de Deus. Como sabemos todas as Igrejas tem partes da verdade, e não é diferente com a Batista, e certamente ao adotar tais princípios verdadeiros, misturados com outros não verdadeiros, ele só consegue enxergar uma parte do plano de Deus. E, daí vem confusão. Também apresenta muitos traços de excesso de auto-confiança (que é um bem, quando na medida certa) talvez até um certo ar de superioridade, influenciado pela convicção da salvação pregada em sua Igreja. E isto tem sido prejudicial a seu desempenho profissional. Parecia que ele esperava por algum milagre religioso para que suas metas fossem atingidas. Embora conseguindo apenas resultados ruins, mesmo assim sentia-se bem, ou passava a impressão de sentir-se bem com resultados medíocres. Num determinado momento, eu o avisei que o demitiria, não por falta de resultados, mas antes por sua falta de empenho.
Mas nem isto mexeu com ele. Dei-lhe um Livro de Mórmon de presente, como havia lhe prometido, tive uma convivência pessoal agradável nos 2 meses e pouco em que trabalhou comigo. Continuamos amigos, a dispensa foi humildemente aceita por ele. Meus argumentos foram tão profissionais quanto é possível ser numa situação desta. Não achei certo declarar a ele que sua atitude religiosa estava atrapalhando seu desempenho profissional. Pois achei que além de não ser bem entendido por ele, não seria um argumento aceito como válido perante os diretores da empresa, pois sequer era a verdadeira razão. Apenas disse que o Ricardo não estava se adaptando ao nosso mercado e não se empenhava o suficiente para mudar este panorama. Não achei necessário discutir com ninguém o mérito do tema central: a passividade dele em aceitar tudo com uma resignação espantosa. Ele possui todos os predicados necessários a um bom vendedor: era apaixonado por carros (nosso produto); tem um QI bem acima da média; é simpático; jovem; bonitão; sabe conversar; saiu-se muito bem nos treinamentos da empresa; tinha um currículo recheado de sucessos em vendas em outras empresas.
A conclusão óbvia: não se adaptou nem se empenhou. Infelizmente a empresa não tem tempo para investir em casos deste tipo. E ele reagiu de modo muito civilizado e concordou com a decisão de maneira bem profissional.
Mas ficou um vazio na comunicação. Não consegui achar o gancho para tocar no aspecto religião. Ficou claro para mim que a atitude dele poderia ser muito mais positiva não fosse a influencia religiosa. Não será o primeiro nem o último a perder oportunidades devido convivções religiosas, embora no presente caso, simplesmente seja por falta de visão.

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